A hora e a vez das turbas.

E não é que o mundo, novamente, voltou a ser um barril de pólvora? Talvez, o paralelismo mais apropriado seja, por enquanto, de uma panela. com óleo fervente, milhos de pipoca sendo esquentados para estourar. Um grão estoura aqui, outro ali e, de repente, a panela toda está explodindo. Quem consegue deter a explosão de uma panela de pipocas? Nem Barack Obama – que deixou cair a máscara de tutor de ditaduras de conveniência – o conseguiu. E vemos a hipocrisia desmoralizante: o mesmo governo, dos Estados Unidos, que dá lições de moralidade democrática a Cuba, à Venezuela, ao Irã, confessa, enfim, ser o grande protetor de uma das mais cruéis ditaduras do mundo, a do Egito. As pipocas estão explodindo. E ninguém segura a panela.

As turbas reagem, inconformadas, saturadas de serem vitimizadas, dispostas a tudo para enfrentar injustiças que chegaram a seu limite. E, pela primeira vez na história, contam, agora, com um instrumento tão poderoso quanto as bombas de aviões ou balas de canhões e de fuzis: a internet. A voz de um, de dois, de quatro foi-se multiplicando para se tornar uma só voz, a das turbas. Caiu a ditadura da Tunísia, começa a cair a do Egito; a Jordânia, com seu monarca, treme; Israel entra em pânico, sabendo que a proteção estadunidense já não lhe será bastante. E a religião democrática, falsa por seu liberalismo protecionista dos poderosos, começa a ceder à radicalidade de religiões que imantam seus fiéis, como o islamismo. No Islã, morre-se por sua fé; no Ocidente, mata-se pela fé capitalista. A diferença é abissal.

Confesso que, fosse eu homem público – mesmo que um simples vereador de província – começaria a ter receios, diminuindo a prepotência e renunciando à arrogância. Pois as turbas estão à solta, cada vez mais iradas. No Rio de Janeiro, o agora deputado federal Romário já sente o sabor da indignação popular por sua atitude irresponsável e indigna. Pois Romário, na primeira sessão da Câmara Federal, marcou presença em Brasília e, meia hora depois, foi-se embora. Para jogar futvôlei em praia carioca.

As turbas enfurecem-se em São Paulo, decepcionadas, sentindo-se traídas, amarguradas, multidões de corintianos que não mais aceitam a idolatria a falsos ídolos, como Ronaldo Fenômeno, que usou da boa fé do povo para fazer grandes negócios, aumentar sua riqueza e engordar feito um porco bem cevado. E as turbas estão nas ruas, querendo fazer justiça pelas próprias mãos, cansadas da morosidade ou da incompetência cúmplice da Justiça.

Não há mais voz ou poder de força que as contenham. Pois as turbas começam numa realidade virtual, comunicando-se por redes sociais, vagando pela internet, planejando, propondo, estimulando-se, como um vírus que se espalha sem vacina coletiva que o controle. A internet passou a ser – também perigosamente – o instrumento mais eficaz para todas as reivindicações e reações, entre as quais a de irresponsáveis que podem fazer explodir o mundo. Há cheiro de morte no ar. E sai do suor e do sangue de turbas desesperançadas. O fim do neoliberalismo se aproxima com um cortejo de mortes, de violência e de rebeliões. E não há prenúncios de modelos mais justo. Na história, já aconteceu antes. E correram rios de sangue. E sem internet. Bom dia.

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