A ponte é do “Cachão”
E lá me vou eu agoniando-me com a perda coletiva da memória piracicabana. Em vez de ficar quietinho em meu canto – lamentando-me para mim mesmo – o coração teima em se intrometer, aflito por ver pérolas e tesouros perdendo-se por equívocos, preguiças e, até mesmo, desinteresses.
Por exemplo, o “Véu da Noiva”. Há uns 20 anos, venho insistindo em repetir que não se trata da cachoeira que cai ao lado do Salto, vinda do córrego do Mirante. O véu é algo ainda mais belo. Está no poema “Piracicaba”, do grande Brazílio Machado, que transformou a cidade na “Noiva da Colina”. Deveria ser poema de conhecimento obrigatório, tal a sua beleza, o primeiro hino de amor à Piracicaba. Brazílio Machado pertencia à família Alcântara Machado, piracicabano fundador da Academia Paulista de Letras. Divulgo o trechinho inicial do belo poema, para tentar, pelo menos, despertar a curiosidade das novas gerações:
“Sacode os ombros nus, ó Noiva da Colina,
Que a luz da madrugada encheu o largo céu:
E arranca-te das mãos o manto da neblina,
Que ondula sobre o rio, enorme e solto véu…”
Esse “enorme e solto véu” da Noiva da Colina é, pois, a neblina que se estende nas imediações do rio e que – antes da anemia de que ele foi vítima – pairava, também, sobre o centro da cidade. Poetas e boêmios deixavam-se, apaixonadamente, umedecer pela neblina que era como uma bênção caindo sobre ruas e praças. E, quando as águas do Salto se agitam, criam a neblina que também abençoa o parque do Mirante, essa obra encantadora hoje tão esquecida. O cronista Rubem Braga, vendo a desolação que ameaçava as belezas do Rio de Janeiro, bradou: “Ai de ti, Copacabana”, retomando o milenar brado bíblico: “Ai de ti, Jerusalém.” E eu começo a bradar, “Ai de ti, Piracicaba”, tão judiada, maltratada, o profano invadindo o sagrado.
A Ponte do Cachão é outra vítima dessa desordem cultural. Tomei a liberdade de, no informativo de uma grande empresa – que se referia à Ponte do Caixão – adverti-los a respeito do nome. Não tem nada de caixão, apesar de, sob a ponte, haver um esqueleto que parece um caixote. Na realidade, Luciano Guidotti – ao ordenar se fizesse aquela área suspensa – pretendia que se construísse, ali, um restaurante panorâmico, ideia maravilhosa que atrairia visitantes a um dos trechos mais belos do rio. Apenas isso. A ponte ficou; o restaurante não aconteceu.
O nome do local, sobre o qual se construiu a ponte, era “Cachão”, devido ao burburinho das águas, ao redemoinho, ao agitar do vento que remexia trechos do rio. É cachão de cachoeira. Antes da ponte, falava-se em ir pescar “no Cachão”. Criada a ponte, ela se tornou a Ponte do Cachão. Ora, convenhamos: há muito mais significado, muito mais beleza em uma cidade possuir uma ponte sobre o cachão das águas do que uma ponte de um simples caixão. Ou não?
Outro dia, em jornal local e em noticiário que se pretendia importante, escreveu-se que a rua “Voluntários de Piracicaba” tinha esse nome em homenagem aos voluntários que participaram da Revolução de 1932. E não é nada disso. É muito mais antigo e significativo para a nossa história. Aqueles “voluntários de Piracicaba” são os que se apresentaram para lutar na Guerra do Paraguai, a maioria formada por homens negros, escravos. Ora, a Guerra do Paraguai durou de 1864 a 1870. E Piracicaba estava lá. Esquecer disso, mais do que um crime, é idiotice.
Tomara pudéssemos nos convencer logo disso: esquecer a história, os valores de uma terra, lutas do passado, tradições – isso é idiotice total. Um povo sem história é massa. E, pelo ritmo da carruagem, estamos caminhando para ser massa e idiotas. Isso não é Piracicaba. Bom dia.
Caro, amigo!
Beber dessa cultura viva, representada por ti, é respirar história… criar identidade, ter passado, presente e futuro. Daí, fico a pensar que aqueles que fazem assento em nosso ‘parlamento de leis’, poderiam sim, cobrir-se um pouco dessa cultura, para que em retribuição, ofertassem projetos com as devidas identificações e verdadeiras informações históricas como forma de preservação cultural. Nesse caso específico, uma placa em cada sentido da ponte, que pudesse indicar a verdadeira grafia e história local.
Quem não conhece o o passado está condenado a repeti-lo, pois a maioria reclama, mas, quando chegam as eleições, o povo esquece de tudo e novamente coloca o número dos mesmos candidatos nas urnas.
Nesse ponto, só nos resta pegar o “caixão” pra enterrar esses incultos!
Só pra lembrar: – Quantos dos que estão lá nasceram na ‘terrinha’?
A historia deve ser escrita, porem nomes como ponte do caixão e rua Boa Morte não são boas referências a uma cidade tão bela.
Retrata ao desconhecidos moradores e turistas como um ponto de algo desagradável, funesto e ou de desgraça.
Penso sim em vivificar Piracicaba com bons atrativos e de nome de benção e graça.
Como negar a história? Não é isso, a referência muitas vezes por desconhecimento, mas nada melhor que o Legislativo possa promover a mudança como nome de pessoas que fizeram suas marcas de heroísmo e resgate em Piracicaba. Ou seja, trazer um marco verdadeiro significado.
Sugestão. Não quero criar polêmica.
O nome Ponte de Caixão é antigo e assim conhecido popularmente até hoje.
Entretanto a Ponte foi denominada em homenagem a “Romeu Pinassi” pela Câmara de Vereadores de Piracicaba através da Lei n. 3464 em junho 1992, disponível para consulta em http://siave.camarapiracicaba.sp.gov.br/Documentos/Documento/185656.
Com certeza o véu da noiva não é aquela minúscula queda d’água no parque do mirante. Quem visitar o Museu Marta Watts verá claramente sobre a maquete da cidade que o Véu é o formato do Rio assim que passa a Ponte do mirante, pois olhando de cima percebe-se claramente o delta formado entre a ponte e o salto do rio, que quando era limpo e cheio era bem branco. Vale a pena fazer uma visita ao museu Marta Watts para conferir.