Quem tem medo de velhinhos?

Elderly manSe eu tiver apenas um leitor, peço que ele me perdoe por algumas insistências e repetições minhas. Mas, como se sabe, “nada há de novo sob o Sol”. Tudo se repete em novo contexto e com novos personagens. Um dos exemplos milenares é o medo que medíocres têm da inteligência e da sabedoria. Outra insistência ainda mais repetitiva de minha parte: citar exceções na Câmara de Vereadores e entre políticos. Claro que existem. Mas, de tão raras e isoladas,  elas nada podem fazer, a não ser dar o testemunho de responsabilidade que falta à grande maioria.

O ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal – Antônio Oswaldo Storel – provocou um dilúvio de falsa indignação na quase totalidade dos vereadores por um simples, verdadeiro e honesto comentário: ele – com sua experiência e digna vivência políticas – apontou abusos, falhas, privilégios e farsas na chamada edilidade, essa que é formada pelos “nobres vereadores”. Storel mostrou que “os reis estão nus”. E eles não gostaram, pois disfarçam seu comportamento pretensioso e descompromissado, com vestimentas que escondem o verdadeiro conteúdo. Eles tentam “parecer ser”, mas não são.

Agora, vereadores – na velha e surrada tática de tentar desqualificar os que os criticam – mostram desespero, à falta de argumentos. E se tornam grosseiros e incivilizados, acabando por mostrar aquilo que realmente são, despindo  máscaras e vestes usadas no teatro político. Chamá-los de hipócritas poderia, para eles, parecer fala ofensiva. Até poderia ser, se usada no sentido corriqueiro. No entanto, hipócrita – no teatro grego, os “hypokritès” – eram os atores, os que se mascaravam, fingindo outras identidades, simulando e dissimulando. No palco do teatro político, quanto mais hipócrita for o personagem mais sucesso obterá. Pena, porém, que o espetáculo sempre acaba e as cortinas são descerradas.

Em apoio a tais vereadores, alguém tentou  – querendo desqualificar Antônio Osvaldo Storel – usar o argumento da ignorância:  Storel – por ser idoso – não poderia ser levado a sério em suas críticas. Ora, não estou aqui em defesa de Storel porque ele não precisa disso. Sua vida é um livro de páginas límpidas, honradas, correspondendo a uma vocação de serviços à comunidade e aos mais frágeis. Apenas me ponho solidário a um homem digno, que – por ter apontado a nudez dos “reis” – tem sido alvo de um complô corporativista, ainda mais lastimável por, nele, haver antigos companheiros de vereança que conhecem seu trabalho e sua honradez.

Idade, como se sabe, não justifica ninguém. Um homem – dependendo de sua história – chega à velhice ou enriquecido por sua dignidade ou desprezado por sua desonra. Pois a realidade é que os canalhas também envelhecem. No entanto, a velhice – para o homem digno – é um prêmio, uma bênção que lhe abre os horizontes da sabedoria. As mais antigas civilizações orientavam-se pela experiência dos mais velhos, formando seus “conselhos de anciãos”, os sábios. Ainda hoje, em países africanos, os idosos são levados para o alto da montanha – onde são protegidos, alimentados – para que ouçam os pássaros e revelem os seus augúrios. Os idosos são os áugures que orientam seu povo. Pois ouvem o aviso das aves, já que aves avisam.

A Câmara de Vereadores não está, apenas, desrespeitando a comunidade, ao se negar a ouvir a população através de seus segmentos e ao ressentir-se de críticas que se lhe fazem. Ela está mostrando um Poder Legislativo também hipócrita no significado grego e, portanto, farsante, falso, que faz o teatro da democracia sem acreditar nela. Atores também são fantoches.  Ora, quais os aplausos que esses espetáculos semanais fazem  por merecer? Sem ter o que responder, agridem. É o medo à inteligência, o pavor à sabedoria.

A Câmara Municipal de Piracicaba está mais envelhecida do que os idosos que a criticam. Pois o seu envelhecimento é espiritual. Se fosse somente de um que outro homem, seria apenas uma tristeza de dar pena. Sendo, porém, velhice espiritual de uma instituição, isso é uma tragédia para a população em geral. Bom dia.

1 comentário

  1. Roberto Antônio Cêra em 29/09/2013 às 18:09

    Para mim, ninguém se salva entre os vereadores da nossa câmara ardente, túmulo dos ideais do povo que os elegeu. Expresso minha total, ampla geral e irrestrita solidariedade o primo torto Vadico e mando às favas a corja que está envergonhando a nossa Câmara Municipal. Bravo, Cecílio, pelo artigo! Essas drogas que estão na câmara, absolutamente não chegarão à velhice com nenhuma sabedoria, mas sim com a ignóbil esperteza de legislarem em causa própria. Lamentavelmente, a parcela inculta da população, os currais evangélicos e sindicais os levará à reeleição, mas Deus está vendo. Só nos resta essa esperança. Senti imensa alegria em ter recusado a ir receber sua homenagem aos criadores do Salão de Humor. Espero que outros também venham a recusar suas desprezíveis “honrarias”, deixando a vaidade de lado. Não entendo como é que alguém pode se sentir feliz com alguma homenagem, que parta de pessoas tão abomináveis.

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