A carinha brava de Aécio

Aécio Neves bravoQuando Tancredo Neves fascinou o Brasil com a esperança de ser o líder da nova democracia, uma figura o acompanhou, despertando a simpatia geral. Era Aecinho – seu neto e secretário particular –  que se tornou, depois, conhecido como Aécio Neves. Na verdade, ele é Aécio Neves da Cunha. Mas quem iria desprezar o sobrenome do avô, um líder místico, carismático, amável?

O Brasil se encantava ao ver Aecinho ao lado da vovó Risoleta Neves, mulher de Tancredo, a matriarca da República. Em português bem claro: Aecinho era uma delícia. Bonito, simpático, galã, sempre sorridente, uma verdadeira gota de mel atraindo todas as mulheres que, como abelhas, dele se aproximavam. Em 1985 – quando Tancredo morreu sem tomar posse – Aecinho tinha 25 anos. E toda a nação chorou com ele, pela perda do avô. Os brasileiros queriam carregar Aecinho no colo, tal o aspecto desolador e frágil que ele revelava. O Brasil quis ser avô de Aecinho e, a partir daí, ele se tornou Aécio Neves, pessoa querida, agradável. Mas – aqui entre nós – pouco levado a sério. O Brasil sempre o quis como o rapagão sedutor, “ bon vivant”, alegre, descompromissado. O genro que todos os pais queriam ter.

Como bom mineiro – e com a escola do avô – Aécio fez carreira política e Minas Gerais o transformou em filho dileto e protegido. Afinal de contas, ele nunca deixou, nas Minas Gerais, de ser o Aecinho, neto de Tancredo. Minas deu-lhe, por antecipação, como que indulgências plenárias. Toda molecagem que Aecinho fazia e fez era compreendida, entendida, minimizada, como se faz com um filho adorável a quem tudo se perdoa.

Mas mineiro não é e nunca foi bobo. Aecinho tinha indulgências plenárias porque, por trás dele e para protegê-lo, estava Andrea Neves, sua irmã mais velha, mulher forte, competente decidida. E, também, o velho amigo Anastasia. Aecinho podia, à vontade, ir passear no Leblon, festar, divertir-se com os amigos, cercar-se de mulheres, que lá estava – como guardiã de seu governo – a poderosa Andréa, que se tornou conhecida e reconhecida como “Primeira Irmã da República das Gerais.” E Aécio pode pintar e bordar, que Andréa está lá, gerenciando o que é sério.

Confesso ter estado entre os deliciados simpatizantes de Aécio, quando Aecinho. Ele era, repito, uma delícia, ocupante “habitué” das colunas sociais, galã irresistível, bonito, simpatia irradiante. Mas eu nunca votaria nele, embora até pudesse pensar em votar na Andréa. Aécio era para ser visto, para alegrar a vida das pessoas, especialmente as noites de todos nós. Divertir-se com Aécio, nada mais do que isso.  Tal era a generosidade popular a seu respeito que ninguém se importou quando ele foi detido embriagado, com a carteira vencida e proibido de voltar a dirigir. Ora, este era o Aecinho, qual a surpresa? E a Aecinho tudo se perdoava. Só que ficou uma advertência: se não pode dirigir um automóvel, como poderia querer dirigir o Brasil? Chamando a Andréa, talvez?

Mas essa não é a questão que me aborrece. Entristeço-me ao ver o que os marqueteiros fizeram com o rosto e a postura de Aécio Neves, o nosso sempre Aecinho. Transfiguraram o “bom moço”. De tanta cirurgia plástica no rosto e de botox, suas sobrancelhas se assemelham àquelas de filmes do Bóris Karloff, de terror, de dar medo. Imprimiram-lhe braveza no rosto e fizeram-no perder a delicadeza dos gestos para transformá-lo num boxeador retórico. De anjinho, querem torná-lo diabinho. Não funciona. Fingir é uma arte, especialmente na política. E essa, Aécio não a tem. Porque, no fundo, ele continua o Aecinho dos bons prazeres e da boa vida.

Ver Aécio Neves fazendo cara feia, tentando gritar com aquela voz feita para seduzir, gesticulando como um boxeador – quando todo ele é feito de galanteria – tornou-se um espetáculo ridículo. Com isso, não há mais Aecinho e nem Aécio Neves.

Parece um boneco, pobrezinho. O boneco com que Fernando Henrique quer se divertir no palco Brasil. Bom dia.

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