E a notícia sumiu…

FHCO direito e o acesso à informação são – especialmente nesta nossa era das comunicações – fundamentais na e para a vida humana. Até para comprar um pedaço de carne, esse direito é garantido: a procedência, a qualidade, o preço, etc. No cotidiano hodierno, a informação se tornou um dos bens mais valiosos, pois é através dela que tomamos decisões, que refletimos, que raciocinamos, que fazemos escolhas.

Nesse sentido, os veículos de comunicação – especialmente os de massa que, na verdade, são de comunicação social – têm responsabilidades quase que assustadoras, pois são os que informam a respeito dos acontecimentos, que os interpretam e que, portanto, ajudam a criar opiniões. Na realidade, os veículos deveriam, por sua natureza, informar e formar. Pois quem informa está formando. E, por conseguinte, quem desinforma está deformando.

Como veterano jornalista – o mais antigo, em exercício, em minha terra – sinto-me apalermado e indignado diante do cenário pantanoso em que mergulhou especialmente a chamada “imprensa grande”. Pois a “grande imprensa” abdicou de sua relevância. Há um sistema cruel e imperdoável de manipulação de notícias, de informações dirigidas, de direcionismo proposital da realidade. Publica-se o que convém, como convém e para quem convém. Sonega-se, ao cidadão, a verdade dos fatos, pois estes são demonstrados e revelados conforme os interesses empresariais e políticos, já que o jornalismo grandalhão se transformou em uma empresa como outra qualquer e, também, em partido político.

Por dever de profissão – e, também, por necessidade pessoal – leio, desde a mocidade, uma variedade enorme de jornais, revistas, publicações. Quase todas elas, para confrontar ideais, ideologias, informações. Isso sempre me foi útil e importante, pois me permitiu conhecer os diversos ângulos das questões, ou apenas os dois lados da moeda. No entanto, hoje não posso mais, desgraçadamente, dizer o mesmo. Pois, ainda assinando as mais diversas publicações, a tristeza é de ver que há um conglomerado único, com uma só tendência, manipulando e desinformando, com exceção de uns poucos, tão poucos que aumentam ainda mais a agonia.

Na última quarta-feira, passeando pelo UOL – vendo a Folha – eis que me deparei com uma chamada que me deixou surpreso, como se o veículo tivesse rompido a barreira da conivência geral. Lá estava: “Fernando Henrique admite a corrupção mas diz que PSDB  nada tem a ver com isso.” Alegremente surpreso, fui ler a informação. Mas não consegui. Pois – de repente, nada mais do que de repente – a notícia saiu do ar. Sumiu. Esfumaçou-se. E não mais retornou nem horas ou dias depois. E não  houve explicações, como se aquilo tivesse sido um acidente, ou uma falta grave por ter levantado suspeita da corrupção tucana. Ora, quem mais impoluto, mais sem nódoa, mais sem culpas do que o tucanato?

Basta ver o tratamento que os grandalhões – nos meios impressos e eletrônicos – têm dado aos escândalos assustadores e de longa data que contaminam os governos de São Paulo, de Mário Covas, José Serra e Alkmin. Em vez de se falar em “mensalão”, ou algo assim, fala-se em cartel, responsabilizando os corruptores e não os corruptos. Em vez de se falar em políticos, fala-se em “agentes públicos”, eufemismos repulsivos para dissimular a gravidade da corrupção e manipular as opiniões públicas.

E se essa fartura de milhões de reais – gastos com propinas e corrupção – tivesse acontecido em algum governo do PT? Ora, claro que o PT tem culpa no cartório e, por sua história, não poderia tê-la. Mas os tucanos – inclusive em Piracicaba – têm feito coisas do arco-da-velha e são poupados pelos veículos de comunicação. Isso é vergonhoso e acintoso, uma violação ao direito à informação que é sagrado aos cidadãos.

Por isso, eles deturpam também a lei da regulação dos meios de comunicação, absolutamente prevista na Constituição e ainda não realizada. Os grandalhões dizem que se trata de censura, mas é outra mentira. É um dispositivo constitucional que, nunca como agora, se tornou urgente. Em defesa do cidadão que não pode mais – mesmo em nome da democracia – ser enganado, manipulado, usado. Jornalismo é missão, difícil, árdua, como que um sacerdócio. Transformá-lo em negócio é abdicar de um honroso dever social para torná-lo um negócio sob suspeição. Não à toa, tiragens de jornais e audiência de televisões caem a cada dia.

Como já o disse Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” Bom dia.

NR: A notícia acabou aparecendo na tevê daquele portal.

3 comentários

  1. Delza Frare Chamma em 10/02/2014 às 11:45

    Mais uma vez gostamos de seu artigo, Cecílio. Particularmente consideramos inteligente a troca feita por você, e que não nos ocorrera antes, entre as expressões “imprensa grande” e “grande imprensa”. Ao nos chamar a atenção de que a “grande imprensa” já não mais existe, porque através de atos como o citado foi abrindo mão de sua grandeza, fez com que, a partir de agora, deixemos de usar a costumeira expressão “grande imprensa”. Valeu!!!!!!!!!!

  2. Luiz Thomazi em 11/02/2014 às 17:16

    Cecílio, você sim grande jornalista, inquestionável… Por isso é indispensável, gratificante e recompensador ler seu “Bom Dia”, já lhe disse isso, não foi? Da prosa mais brejeira e graciosa, dos temas simples do bravo povo brasileiro às questões de fundo da condição humana; do tema fugaz àqueles mais densos que se repetem e se perpetuam e angustiam nosso cotidiano, é sempre um alívio saber que o cibermundo também acolhe e nos oferece seus textos. Quanto à imprensa grande, em sua pequenez, ora, cuida dos seus próprios e escusos interesses, pois não os assume publicamente, e monta suas verdades, arranja esquemas desde a confecção da pauta, manipula a edição, que importam os fatos reais, o contraponto das ideias, a checagem das informações, isso é frescura acadêmica, preciosismo ético… E divulga suas diatribes fecais, depois “repercutidas” escatologicamente pelas “coirmãs” em indignação seletiva, que tentam ainda formar a “opinião pública”, mas que não passa de “opinião publicada”. Ah!, se tivéssemos ainda os outros veteranos, aquela velha guarda da imprensa… Abraços.

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