E o petróleo é nosso!

Lá estava a notícia quase inacreditável, pelo menos para mim e os de minha geração que, ainda crianças, víamos a luta nacionalista pelo petróleo. A notícia: “A Petrobrás é a segunda maior empresa petrolífera do mundo, depois da Exxon.” E por enquanto. E a emoção aumenta quando se vê um antigo operário, migrante nordestino, fazer o anúncio em plena Bolsa de Valores de São Paulo, ele, de quem se temia fosse o implantador do comunismo no Brasil.

Nasci, em 1940, já ouvindo o clamor da batalha popular em defesa do petróleo brasileiro. Criança, continuei ouvindo, especialmente a luta insana, louca, visionária de Monteiro Lobato, o profeta e oráculo dessa formidável riqueza nacional. Já na escola, comecei a ler e a ouvir falar de Mr. Link, o técnico dos Estados Unidos e seus companheiros, que diziam não haver petróleo no Brasil. E, na adolescência e ainda ginasiano, com o retorno de Getúlio Vargas ao poder, éramos estimulados a sair às ruas, levando cartazes e distribuindo folhetos com o slogan que se tornou bandeira nacional: “O petróleo é nosso!” Uma das ironias histórias: o pai e o tio de Fernando Henrique Cardoso, ambos militares, faziam parte da ala nacionalista do Exército que lutava pela exploração nacional do petróleo. O próprio Fernando Henrique – que, como presidente, quis privatizar a Petrobrás – fez parte dessa luta nacionalista. Fez.

E, enfim, em 1953 – sendo massacrado pela imprensa, pelos representantes de países imperialistas, por bancos e empresários – Getúlio Vargas criou a Petrobrás, para que o petróleo fosse realmente nosso. Como narrar essa epopéia toda a jovens que, hoje, mal sabem o que está acontecendo no país ou o que aconteceu? Como fazer com que certa imprensa apenas comercial reconheça que a intuição e também a certeza coletivas dos brasileiros estavam no caminho certo? O complexo de vira-latas ainda está vivo. E, pior do que ele, o espírito entreguista, contrário à nacionalidade, em defesa de interesses de grupos, empenhado, ainda, em manter o país no estado de submissão a poucos.

Quando Getúlio Vargas se suicidou, ele o fez por cansaço, com esses mesmos grupos – que geraram herdeiros ainda vivos e ativos – sofreu verdadeiro massacre moral, deixando a sua morte como herança aos brasileiros. No entanto, a sua grande herança foi a criação da Petrobras, Volta Redonda, a instalação pioneira da indústria brasileira. O suicídio de Getúlio foi apenas o prenúncio do que viria depois, o golpe militar de 1964. E que ainda mantém vivas algumas de suas raízes que, ao contrário do que diz e proclama certa imprensa e seus áulicos, não está, não, no governo, mas fora dele, nos bastidores, nos conchavos, nos complôs, na manipulação de fatos e distorção de muitos deles.

PetróleoAí está, pois: o Brasil se impõe ao mundo de maneira espantosa e deixa nações e países de queixos caídos. Enquanto isso, os mesmos de sempre, querem ver pelo em ovo, mediocrizam uma grandeza que já se revela exuberante, fingem não ver e enxergar que o Brasil mudou, que há uma nova classe média e que, inevitavelmente, começou a surgir uma nova elite dirigente, intelectual e empresarial. A Petrobrás passa a ser símbolo desse gigante que, finalmente, acordou e que não mais dorme em berço esplêndido. Quem se lembra das lutas e das conquistas de 1953, com o surgimento da Petrobrás, quem se recorda da violência e crueldade com que a velha UDN – ainda viva com seus caquéticos remanescentes – levou Getúlio Vargas ao suicídio quase não consegue acreditar que estejamos, hoje, diante desse momento formidável da vida brasileira, o da consolidação, enfim, do “petróleo é nosso”. E não dá, também, para acreditar como o presidente Lula sobreviveu e resistiu a tal massacre. Um homem que termina o governo com apenas 4% de rejeição tem que ser respeitado, pois é uma maioria de 80% que consideram ótimo e bom seu governo, com 16% outros que o vêem como regular.

Ora, os antigos donos do Brasil representavam, ainda há poucos anos, apenas 7% da população. Já caíram para 4%. O torneiro mecânico conseguiu o milagre de merecer a confiança de pobres e de ricos, de miseráveis e de poderosos. Não enxergar isso é uma lastimável demonstração de cegueira intelectual e de passionalismo doentio. A Petrobrás passa a falar por nós, vira-latas que, enfim, assumimos nossa vocação de cães de raça especial. Bom dia.

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