Equívoco histórico do Capitão Gomes

Se a Câmara Municipal aprovar a proposta do Capitão Gomes para dar o nome de prof.Alceu Marozzi Righetto ao Salão de Humor de Piracicaba, estará convalidando um dramático equívoco daquele vereador, tornando-o um imperdoável erro histórico. Desde início, fique claro: Alceu Marozzi Righetto merece ser lembrado e homenageado, mas não pelos motivos apresentados pelo Capitão Gomes e, sim, por outros serviços prestados a Piracicaba, no jornalismo, no ensino, na cultura.

Não se avalie, em nenhum momento, seja má fé do vereador Capitão Gomes, mas insista-se em sua desinformação ou deformada informação. Aliás, um dos esportes favoritos das câmaras municipais em todo o país tem sido o de prestar homenagens, conferir diplomas, dar nomes a vias pública e títulos a cidadãos, de maneira que se vai tornando cada vez mais indiscriminada a ponto de as pretendidas honrarias se tornarem banais. Ora, as câmaras municipais são fontes e guardiães da história, repositórios econhecidamente confiáveis , em seus documentos e registros, para a documentação histórica. Não se pode, pois, conceber que, por má informação ou por informação equivocada, vereadores patrocinem equívocos que se tornarão erros imperdoáveis perante a história.

Insista-se ainda: Alceu Righetto – meu amigo de infância, colega de escola e meu orientando nos primeiros passos do jornalismo – merece ser homenageado por sua cidade. Ele prestou trabalhos importantes e teve grande participação na vida cultural de Piracicaba. No entanto, a história do Salão de Humor não é essa a que o Capitão Gomes se refere, erradas as datas e também personagens.

Ora, confesso já ter-me cansado de narrar os fatos reais da criação do Salão de Humor, que teve seu princípio em minha sala em O DIÁRIO, do qual fui diretor e proprietário. Os dois principais idealizadores foram Ermelindo Nardin e Roberto Antônio Cera, ainda em 1972, após Nardin ter criado o Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Cera e Nardin me pediram apoio, através de O DIÁRIO, para patrocinar a iniciativa do Salão de Humor, idéia e iniciativa deles. Não dei grande importância à idéia deles, mergulhado em grandes lutas políticas naquele ano de ditadura férrea, mas prometi o apoio de O DIÁRIO, estimulei-os.

 

Ambos, Cera e Nardin, foram ao Rio de Janeiro buscar apoio dos jornalistas de O Pasquim, conforme já foi divulgado diversas vezes e tive o cuidado de publicar no meu Memorial de Piracicaba – Almanaque 2000. Este, o Memorial, foi um trabalho exaustivo que, para me tranqüilizar, teve o apoio e o aval de instituições sérias como a UNIMEP, o Instituto Histórico e Geográfico e o Jornal de Piracicaba.

A Alceu Righetto deve-se a operacionalização confusa do primeiro Salão, pois Cera e Nardin, por divergências anteriores com o prefeito Cássio Paschoal Padovani, deram uma pausa ao projeto. Alceu Righetto, na verdade, atropelou os companheiros dele de O DIÁRIO, com a colaboração de dois ainda jovenzinhos e então aprendizes de jornalismo, Adolpho Queiroz e Carlos Colonnese. O Capitão Gomes está mal informado ou sendo usado por colaboradores também desinformados.

E essa desinformação é ainda mais grave quando se mistura a Ação Cultural, da qual Alceu Righetto foi titular ao tempo de João Herrmann Neto, com a realização do primeiro Salão, que teve a importante participação do secretário de turismo da época, no governo Adilson Maluf, o engenheiro Luiz Antônio Fagundes. Na área governamental, se há méritos para a realização do primeiro Salão de Humor, estes são do então prefeito Adilson Maluf (a quem fiz forte oposição) e ao secretário Luiz Antônio Fagundes.

Se é reta a intenção do Capitão Gomes, é equivocada e incorreta a sua justificava. Por enquanto, é um equívoco histórico. Se a maioria de vereadores aprovar a proposta em tais termos, estará acontecendo um escandaloso erro histórico que comprometerá a Câmara Municipal e os vereadores como guardiães documentais da história. Que se homenageie Alceu Marozi Righetto por motivos mais límpidos, não por situações nebulosas e a partir de informações equivocadas. A Câmara e o vereador Capitão Gomes arriscam-se a ser julgados como falseadores da história. Bom dia.

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