Festeiros, cotas e garoto sábio

picture (1)A princípio – admito – pensei nos Kennedy, John e Jacqueline, a Casa Branca transformada na “Camelot” daqueles tempos. O mundo extasiava-se diante da leveza de governantes jovens, elegantes, requintados. Pensar nos Kennedy, no entanto, é até exagero. Como audácia seria, hoje, comprar Brasília com a Casa Branca de Barack e Michelle Obama. Lembrei-me, então, dos Kubitschek, Juscelino e dona Sarah, na Brasília recém-inaugurada. Dei-me por feliz: houve tempo em que – mesmo dançando valsas, cantando o “Peixe Vivo” e fazendo serestas – governantes mantinham o que José Sarney ainda chama de “liturgia do cargo”. Então, li a redação de um aluno do ensino médio, que circula pela intenet como num grito de advertência. E desanimei.

Antes de filósofos de plantão tacharem-me de preconceituoso, antecipo-me: nasci numa fria manhã de São João, em meio a foguetório de festanças caipiras. E assim foi-me ao longo da vida, cada aniversário marcado por bandeirolas, pipoca, quentão.

Posto o preâmbulo, e já que começam as festas caipiras, antecipadas, em todo o Brasil, volto a refletir a partir da redação do menino e do forró junino com que o presidente Lula e dona Marisa costumam comemorar aniversário de casamento e a festa de Santo Antônio. Os convidados – incluindo ministros da República – vestiam-se, não sei se agora o farão, a caráter: chapéu de palha, saia-balão, trancinhas, calças antes chamadas pula-brejos. Festa junina é isso, luso-brasileiríssima. Mas Juscelino –um populista – nunca precisou fantasiar-se de caipira mineiro para dizer de sua brasilidade ou para aproximar-se do povo.

Na verdade, depois de ter a redação do garoto, solta na internet, nada eu deveria estranhar. Estranho seria haver, na Brasília oficial, entendimento, lucidez. Governar apenas com boa vontade pode matar o país. Como essa ingênua – ou pérfida? A política universitária, propondo cotas, cursos básicos, democratizações que desprezam merecimento e competência. Universidade – em países sérios – é espaço especial de pesquisa, de universalismo, de excelência de conhecimento – não de alfabetização. Universidade pressupõe haja, antes dela, escolas básicas também excelentes, não formadoras de analfabetos funcionais.

A redação é de um garoto na antevéspera do vestibular, fruto de nossas escolas. Seria uma advertência, se os festeiros do governo pudessem lê-la. Transcrevo-a, saudando um futuro acadêmico brasileiro:

“O vestibular é muito polêmico, e agora o governo resolveu fazer cotas pros negros e prá quem veio da escola pública. No caso dos negros, é injusto, já que 50% nascem pretos e a metade não. Isso ficaria indeciso, pois existem pessoas como o Maicou Jecksson que nasceram pretos e são brancos, então pode-se alegar que um loiro tem descendência afro-africana, como os orientais. (…) Mas para evitar a complicação do vestibular, o ideal seria o sorteio de vagas, assim só os sortudos conseguiriam entrar na faculdade, ou seja, além de um profissional competente o cara seria um profissional de sorte.

É uma pouca vergonha o sistema de cotas, porque os homossexuais seriam desfavorecidos perante ao curso superior, novamente um motivo para o presidente ser bêbedo. E não são todas as pessoas que tem oportunidade de estudar numa boa escola como (…) Todavia, a metodologia do vestibular é totalmente ineficiente e fálica, pois se descobrirem vida em outros planetas os conceitos do concurso “Miss Universo” teriam que ser repensados. Desejo à todos uma boa viagem.”

O professor anotou na prova: “Evite fugir do tema.” Bom dia.

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