O mundo sem Kennedy

É difícil, aos mais moços, avaliar, mesmo que pela rama, o que significou o surgimento dos Kennedy no mundo da década de 1960. Houve uma confluência tão grande de valores, de acontecimentos e de líderes mundiais que novos tempos surgiram como que numa magia dos deuses. John Kennedy – então um homem jovem, com pouco mais de 40 anos – trouxe um vigor de esperança renovada não apenas aos Estados Unidos, mas ao mundo, no conflito assustador da Guerra Fria. O Brasil vivera a era juscelinista, começando a, enfim, ver o futuro chegar. A Igreja, com João XXIII, abria suas janelas para os tempos, anunciando a sua Primavera. A música dos Beatles revolucionava a juventude. Kennedy, tendo Jacqueline a seu lado, simbolizava um novo tempo, a audácia retomada, a fé no humanismo, um novo sopro de vida nas relações internacionais.

A bala assassina em Dallas pareceu matar a esperança. Mas ela teimou em resistir, na voz de Martim Luther King, na teimosia imbatível de Bob Kennedy, que tomara o bastão do irmão caído, levando-o em direção aos tempos sonhados. Balas assassinas mataram também Bob Kennedy e Luther King. E os olhos do mundo se voltaram ao caçula do clã, ao jovem senador Ted Kennedy, herdeiro não apenas da família e guardião de seus sonhos, mas herdeiro e guardião, também, do que de melhor a humanidade sonhou.

Mas tudo de ruim começou a acontecer, com a vitória dos senhores da guerra, dos conglomerados financeiros, a estúpida aventura no Vietnã, o Camboja, as ditaduras na América Latina, a cabeça odiosa de Henry Kissinger pensando pelo mundo e planejando o que viria a ser a implantação da economia neoliberal em escala mundial. Com o nome de globalização, justificou-se tudo. E surgiu o famigerado e pernicioso “pensamento único”, de Washington. Mas Ted Kennedy, com sua personalidade ímpar e como que consagrado ao ideário dos irmãos, permaneceu como a voz confiável que falava em nome dos pobres, dos desvalidos, dos injustiçados de todas as latitudes e longitudes.

Poucos como Ted Kennedy conseguiram o pleno respeito entre seus pares, companheiros e adversários, na política estadunidense, impondo-se, também, no cenário mundial. Foi a voz da dignidade. Foi o testemunho da política como missão de servir. Por mais que tentassem humilhá-lo por problemas em sua vida pessoal e amorosa, a mediocridade dos adversários não conseguiu vencê-lo. Era e foi o Leão do Congresso dos EUA.

O mundo, sem os Kennedy, fica mais vazio. Especialmente porque, com a morte de Ted Kennedy, encerra-se, em definitivo, o tempo dos “grandes homens”. Hoje, quem? Bom dia.

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