Futuro imponderável

As coisas vão acontecendo sem que ninguém consiga detê-las. Por exemplo, um vendaval é capaz de alterar tudo, inclusive a economia de países inteiros.

Por mais que se planejem as coisas, há sempre os imprevisíveis e os imponderáveis e dificilmente haverá alguém que consiga organizar a sua própria vida a não ser em função da semana seguinte. Especialmente no Brasil, onde o que era no mês anterior já deixou de ser no mês seguinte. O futuro, pois, continua sendo imponderável e, no entanto, isso não nos tem servido de lição para que aprendamos a viver o dia de hoje.

De minha parte, confesso que comecei a aprender alguma coisa com a sabedoria popular, com a profunda filosofia que está inscrita, por exemplo, na traseira de caminhões. O conhecimento da vida está ali. O povo sabe mais do que filósofos e cientistas, mas quase ninguém valoriza o que o povo sabe, esse zé-ninguém que está aí pelas ruas, anônimo, desconhecido. O caboclo brasileiro, por exemplo, é um sábio. E, se for mineiro, mais sábio ainda, como se a montanha fosse a fonte da reflexão.

Olhar o mundo, acho eu, é uma das poucas saídas que nos restam. Olhar, apenas olhar, aprender pelos olhos. A alma se enche pelos olhos e pelos ouvidos, e é essa a riqueza interior, talvez a única que valha a pena.

Tenho um exemplo. Um grande historiador brasileiro, homem de cultura imensa, também ativista político que, por mais de 70 anos de sua vida, se dedicou a interpretar e a reinterpretar o Brasil. Quando dele ainda muito se esperava em participação e em produção intelectual, decidiu dar um rumo totalmente novo à sua vida: arrumou sua malinha com roupas, uma única malinha, conversou com os filhos e netos, recolheu-se a um mosteiro. É lá, num mosteiro – mergulhado em livros, pensando e refletindo, mexendo com uma pequena horta – ele pretendia passar o restante de seus dias.

Na realidade, ele finalmente compreendia a inutilidade de tudo, essa nossa pretensão de acreditar que podemos planejar o futuro, criar coisas duradouras ou ternas – quando um simples vendaval pode mudar o destino de povos e de nações.

Um dos maiores intelectuais brasileiros refugia-se num mosteiro e, na verdade, nada mais faz do que repetir o caboclo brasileiro que, pintando o seu cigarro, fica dias inteiros olhando a natureza para aprender com ela, o por e o nascer do sol, a cega das estações, conseguindo fazer, da choça onde mora, um palácio a partir do qual consegue entender o mundo.

Fico me perguntado para que serviram as audaciosas descobertas dos cientistas, o porquê de tantas filosofias. O ser humano não ficou mais feliz. As angústias aumentaram, a perplexidade se multiplicou. E daí.

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