Hospital, lengalenga, eleições

Sei lá, eu, se Barjas e os políticos que por aí estão já tinham nascido ou faziam suas molecagens infantis quando da primeira administração de Luciano Guidotti. Foi no final dos anos 1950. Quanto a mim, eu já estava em atividade jornalística desde 1956 e fui testemunha de um dos sonhos de Luciano Guidotti para Piracicaba: construir um hospital de excelência.

Quando Domingos José Aldrovandi se candidatou à sucessão de Luciano – candidatura vetada pela Igreja Católica, que ditava regras também na política – a sua grande meta era, igualmente, a de construir um hospital. Não foi candidato mas Piracicaba deve a Domingos José Aldrovandi – que anda esquecido até por seus herdeiros políticos – a construção e o surgimento do Hospital dos Fornecedores de Cana, uma obra que, à época, assombrou o Brasil e que, hoje, é um modelo de excelência.

Estou querendo dizer que, como decano da imprensa piracicabana – o mais antigo, o mais idoso ainda em atividade – vi coisas do arco da velha. E a construção de um hospital municipal ou regional tem sido uma delas. Luciano Guidotti, na sua segunda administração, quis construir o hospital onde estava o Hotel Beira Rio, obra dele próprio. Não deu certo. Cássio Paschoal Padovani, na Prefeitura, quis o mesmo e , alguns anos depois, João Herrmann Neto que, por sua vez, prometeu transformar em hospital o Centro Cívico, erguido por Adilson Maluf. Nada aconteceu.

Nestas últimas décadas, toda véspera de ano eleitoral o desejo do hospital, misturado a farsas, foi apresentado aos piracicabanos com grande ênfase. E a tanto chegamos que até pedra fundamental foi lançada, na divisa entre Piracicaba e Rio das Pedras, por políticos nossos, com a presença do então Governador Fleury, em terras prometidas em doação por Dovílio Ometto. Ninguém sabe, até hoje, o que aconteceu, mas houve festa, houve notícias de jornais, houve banda tocando.

O velho jornalista sabe que tem sido duas as grandes lengalengas políticas destas últimas décadas. Além do hospital, o Marco Zero do MERCOSUL em Artêmis. Agora, a vergonha bateu e quase ninguém mais fala em hidrovia do MERCOSUL, em marco zero, em navegabilidade do rio. Mudaram o discurso para porto seco. No entanto, é inesquecível, tristemente inesquecível, lembrar o passeio que, quando candidato a prefeito, Humberto de Campos fez ao longo do rio, em lancha, mostrando as belezas e anunciando que, com a hidrovia, seriam criados 100 mil novos empregos. Levaram-no a desempenhar uma farsa, os mesmos que comprometeram a sua administração, muitos dos quais ainda liderando o tucanato piracicabano.

Cheguei a ver, no escritório do então todo poderoso Sérgio Motta – principal assessor de Fernando Henrique – o projeto das eclusas, das obras, do porto de Anhembi. O Estado gastou uma fortuna para dar palanque a candidatos, um dinheiro jogado fora. Ou melhor: jogado para beneficiar amigos.

Agora, novamente, a notícia: o prefeito anuncia que irá construir o hospital regional. Onde? Seria no mesmo lugar onde já foi lançada a pedra fundamental da promessa anterior, em terras de Rio das Pedras? E aquele, o vento levou? De qualquer maneira, projeto há e até já posso ver o ano que vem o bombardeio eleitoral sobre o povo: “Elejam José Serra que, presidente, Serra levará Barjas de volta a Brasília e, em Brasília, Barjas trabalhará pela construção do hospital regional.” Por enquanto, diz-se que Thame estaria fazendo a via-sacra, como se fosse homem de copa e cozinha de Lula, ulalá.

 

É esperar para ver. Mesmo porque, de todos eles, o que mais conhece os caminhos das pedras é Barjas Negri, um homem que se tornou expert em ambulâncias, assuntos farmacêuticos, negócios da saúde, com seu amigo Cárdenas, abrigado na Saúde piracicabana. Talvez, com o auxílio do secretário de Esportes, homem de planos de saúde, e com orientação de empreiteiras locais, as coisas se tornem mais viáveis. Não sei para quem. Mas tomara sobre algo bom para o povo.

De qualquer maneira, tomei a minha decisão. Nesta coluna, o “Bom Dia”, não escrevo mais sobre política. É sujeira demais para um espaço que reservei para minha alma, meus sentimentos, minha visão de mundo. Comentar e opinar, continuarei fazendo-o, sim, pois permaneço jornalista e com minhas responsabilidades. Mas, a partir de hoje, será em Opinião, coluna da razão, do argumento, da análise. O Bom Dia é espaço de minha alma. E, nela, político não entra. Bom dia.

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