Jornalismo investigativo e de opinião

picture (24)Todos os grandes movimentos sociais e políticos do Brasil – também em todo o mundo civilizado – contaram com a participação efetiva e, quase sempre, pioneira da imprensa, desde as suas origens. Jornais, revistas, panfletos brasileiros moveram intensa campanha a favor das liberdades, dos valores nacionais, sendo marcantes as lutas pela Abolição da escravatura, pela implantação da República, pela quedas de regimes corruptos e superados. A ditadura de Getúlio Vargas caiu, entre outros motivos, graças ao firme posicionamento da imprensa brasileira em favor da redemocratização do País após a II Guerra Mundial e, mais proximamente, foi a imprensa a grande voz a ecoar sentimentos nacionais contra o militarismo de 1964.

Nos últimos tempos, no entanto, com a democratização do Brasil e após a campanha pelas “Diretas Já”, houve como que uma acomodação ou busca de novos caminhos. E, infelizmente, grande parte da imprensa brasileira realmente fugiu ao seu histórico papel de ser crítica dos poderes constituídos, porta-voz dos desfavorecidos, aquilo que se chamou, nos 1980, “voz dos que não têm voz”. Essa parcela da imprensa se tornou poderoso aliado dos poderes, participando de lutas de grupos e tendendo a uma promiscuidade inaceitável, entre jornalismo livre e empresariado/partidos/governo.

O advento da internet revolucionou o que era conhecido e estava estabelecido. Veículos de comunicação impressos, especialmente diários, mal perceberam que a informação passou a ser defasada, sendo atropelados pela rapidez espantosa da comunicação eletrônica e, também, por rádio e televisão com novos recursos. A notícia deixou de ser primeiro alvo do jornalismo impresso, pois os veículos eletrônicos, com sua natureza virótica, “espalha” a notícia com rapidez estonteante. Aos jornais, aos poucos, foi imputado, novamente, o papel primordial e fundamental de suas próprias origens que, além da informação, sempre foi o de auxiliar da formação do senso crítico da comunidade e da população.

Ao contrário do que afirmam os profetas do catastrofismo, não aconteceu e tampouco acontecerá o desaparecimento de jornais como veículos impressos. Desaparecerão, sim, os que não tiverem sensibilidade para mudar de rumos e reassumir suas verdadeiras funções, que passam a ser, de maneira especialíssima, o jornalismo investigativo e de opinião. Jornais sem opinião morrerão; jornais comprometidos morrerão; jornais silenciosos diante dos escândalos, da corrupção, da injustiça, do desrespeito aos valores cívicos, estes também morrerão. Seja na chamada grande imprensa, seja até mesmo em bairros.

E o que temos visto, nestes últimos meses no Brasil, é a retomada desse jornalismo investigativo pelos maiores veículos impressos, jornalismo de denúncias, jornalismo de oposição à imoralidade e em defesa de uma sociedade ética e honrada. Os acontecimentos em Brasília – que levaram o Congresso a chafurdar na lama da mais deslavada corrupção – mostram uma imprensa novamente atenta, combativa, indignada, movida por valores cívicos. Essa imprensa não morrerá. Pelo contrário, renasce com mais força, como mola mestra para o povo formar opinião e como indutora do exercício do senso crítico e de indignações justificadas.

O mesmo que se exige de revisão e de higienização das Câmaras de Vereadores nos municípios brasileiros, acaba sendo necessário e fundamental, também, para a imprensa interiorana: jornalismo de ação, de percepção, de investigação, de oposição. E, ainda outra vez, a já célebre frase de Millôr Fernandes se revela profética e atual: “Jornalismo é oposição. O resto é balcão de anúncio.” O papel da imprensa brasileira, nesse princípio de revolução moral que sacode o Brasil, é alentador. Que seja imitado nos municípios. Bom dia.

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