Levado ao psiquiatra

O texto foi publicado no livro Bom Dia: Crônicas de Autoexílio e Prisão, lançado em 2014

Aos 16 anos, já tinha composições escolares publicadas pelos jornais da terra que eu tanto amava. E, xeretando na redação, acabei convidado a ser auxiliar de revisor. O cheiro de tinta e papel, vindo das oficinas, embriagava-me. Era como, aspirando-o, uma especiaria entrasse pelos meus pulmões, correndo pelas artérias, vitalizando o sangue. Acho que fui intoxicado pelo cheiro de tinta, da fumaça das linotipos, do papel do jornal. E nunca mais me curei.

Meu pai – imaginando-me um futuro médico – quase enlouqueceu ao saber que eu pretendia ser jornalista. Para tornar-me um escritor. Fui então – por insistência de minha irmã mais velha, Marlene, a Leninha – levado a um psiquiatra, o inesquecível doutor José Leny Jardim. Foi em 1956. E, naquele tempo, ir a um psiquiatra era o mesmo que ser considerado louco. Para minha família eu era, pois, o louco da casa. Ser jornalista, atividade sem futuro, coisa de bêbado, de boêmio?

O dr. Jardim me olhou fixamente. E não pestanejei. E ele me perguntou o que, afinal de contas, acontecia comigo, qual era o problema. Eu apenas respondi. “Eles (minha família) acham que eu sou louco porque quero ser escritor”. O saudoso médico me olhou ainda mais fixamente e respondeu: “Se é esse seu sonho, lute por ele até o fim. Se você não o fizer, será infeliz pelo resto da vida”.

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