Meu amigo Cocenza

E lá se foi ele, amigo generoso, cidadão atuante, piracicabano de alma e coração, o mineiro Antônio Henrique de Carvalho Cocenza, o nosso Cocenza. Confesso que, diante de tantas e repetidas perdas, expressões de sentimentos começam, também, a ficar bloqueadas. Pois são feridas sem tempo de cicatrizar, ausências que se não preenchem.

Conheci o Cocenza acho que há mais de 30 anos, quando ele veio a Piracicaba, apaixonado por nossa terra. Aproximando-se de João Chiarini, o Cocenza logo formou, com ele, uma dupla cultural inseparável, unidos pelo amor à terra e à inteligência. E nossa amizade se consolidou nos Cursilhos de Cristandade, quando o Cocenza participou e tive a alegria de ser reitor daquele encontro. O brilhantismo de sua inteligência, suas observações sagazes, sua curiosidade reveladora de fome de conhecimento tornaram-no admirado por todos, admiração que, ao longo dos anos, se estendeu por toda a cidade.

Escritor, professor de colegial e universitário, advogado, intelectual, farmacêutico diplomado, jornalista, nem mais sei quantos títulos e diplomas o Cocenza colheu ao longo de sua fertilíssima vida, vivida com alegria, com bom humor, como se, a cada acontecimento, houvesse um chiste a ser contado ou inventado. Ele estará entre os nossos mais talentosos “causeurs”, tais as conversas saborosas, os ditos espirituosos, as observações sagazes. Na Academia Piracicabana de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, Antônio Henrique de Carvalho Cocenza foi personalidade brilhante, um serviçal das grandes causas da cultura piracicabana.

Se Piracicaba perde um grande filho – ele honrou a cidade ao aceitar tornar-se Cidadão Piracicabano – nem sei o que dizer do quanto perdem seus filhos, a esposa Yara, nós, os amigos. Penso na dor do Cerinha, o Roberto Antônio Cêra, do Elias Salum, companheiros de todos os dias, longas conversas na Praça da Catedral, alegrias cotidianas. Piracicaba torna-se menos culta. E menos alegre. Pois, entre tantas virtudes, o Cocenza tinha uma especial, a da alegria. Que ele soube transmitir, com maestria e graça, por muitos e muitos anos em suas saborosos crônicas nas páginas dos jornais de Piracicaba.

O tempo vai transformando a vida numa coleção de vazios. A morte de Cocenza aumenta-a ainda mais. Naquele cursilho, Cocenza foi convidado a dramatizar o papel do apóstolo Tiago. E ele o fez com tal competência que nos parecia estar diante do verdadeiro apóstolo e nos tempos das andanças de Cristo. Certamente, a partir de agora, em algum lugar dos espaços, lá estará o Cocenza contando a última anedota para Tiago Apóstolo, sem que possamos ouvi-la. As alturas ficam mais divertidas. Por aqui, mais tristeza. Adeus ao velho amigo. Bom dia.

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