Meu herói

Claudio MarettiA revista Época promove, anualmente, a escolha dos “100 brasileiros mais influentes”, listagem aguardada por todos os setores da sociedade. A seleção é feita por grupos de personalidades, definidos nas categorias Líderes, Construtores, Heróis e Artistas. Neste final de 2010, Época apresentou, em edição especial, os eleitos, com comentários de outras personalidades também selecionadas para saudá-los. A escolha se deu através da participação de especialistas e de milhares de brasileiros que fizeram suas indicações.

Essa iniciativa da revista do Grupo Globo data de quatro anos, coincidindo com a data em que me tornei assinante de Época. Aliás, foi quando desisti de assinar a revista Veja, por uma questão de saúde mental e espiritual. A revista Veja, como tem ocorrido com algumas outras – e incluo também Época, em algumas edições – parece, em meu entender, menosprezar a inteligência do leitor. Nesse sentido, por sinal e como jornalista, aprendi a ler nas entrelinhas, a me informar pelo que não está escrito, pelo não revelado. Mais ainda: para se ter um mínimo de informação, preciso é ler publicações que se opõem ideologicamente. Dos contrários, tira-se a média.

Recordo-me de que, desde a infância, aprendi com meu pai a tentar fazer a síntese do que é tornado público por opiniões divergentes. Recebíamos em casa o “Jornal de Piracicaba”, de Losso Netto, e o “Diário de Piracicaba”, dirigido então por Sebastião Ferraz, naquele início dos 1950. Meu pai, leitor voraz, me mostrava as nuanças do noticiário, os ângulos abordados conforme a visão e o posicionamento de cada jornal. Losso Netto era udenista visceral, sendo o “Jornal” verdadeiro porta-voz da UDN. Por outro lado, Sebastião Ferraz oscilava entre o PSD de Juscelino Kubitschek e o PSP de Adhemar de Barros. Enquanto Losso desancava Adhemar, Ferraz malhava a UDN. Das duas posições, tinham-se elementos para procurar o meio termo: “in medio stat virtus”.

Assim, pois, vou levando, ainda hoje, a minha busca de informação. Houve tempo em que assinei Estadão, Folha e Diário de São Paulo, três posições diferentes. E acrescentei Veja e Isto é. Agora, filtrei as coisas e, tendo dispensado Folha e Veja, contento-me com Época e Estadão, sabendo que eles são fiéis a seu próprio conservadorismo. Dessa forma, acabo lendo o que pensam para, algumas vezes, eu pensar exatamente o contrário. E me amparo no lado oposto, as revistas Caros Amigos e Carta Capital. Aqui entre nós: o Mino Carta continua sendo o mais brilhante, independente e lúcido jornalista brasileiro, em meu entender.

Pois bem. Retomando a lista de Época escolhendo os “100 brasileiros mais influentes de 2010”, lá comecei a ver as personalidades que, segundo a revista, “se destacaram pelo exercício do poder, pela construção de um projeto, pela inspiração, pelo talento. Por meio de seus perfis, é possível entender melhor os caminhos, as apostas, os desafios do país.” E vi Lula e Dilma e Aécio, entre os líderes. E vi Abílio Diniz, Eike Batista e André Gerdau, entre os Construtores. E vi Ferreira Gullar, José Padilha e Ivete Sangalo entre os artistas. E vi José Mariano Beltrame, Neymar e Cláudio Maretti entre os Heróis brasileiros. Foi quando perdi o fôlego. E li de novo: Cláudio Maretti, “um dos nomes mais destacados do WWF no mundo”.

Perdoem-me a alegria. Pois voltei a ler, a reler. Lá estava: “Cláudio Mretti contribuiu, consideravelmente, para a defesa e a atenção pública à Amazônia, à Mata Atlântica, ao cerrado e ao Pantanal.(…) O trabalho diversificado desse ambientalista brasileiro persistente, estratégico e engajador é marcado pela sua visão sensível do mundo.”

Ora, e eu sabia de tudo isso. E Cláudio, silencioso, humilde, cavalheiro, ficava de pés no chão, caminhando por meu jardim, o olhar mergulhado em belezas que apenas ele via. Cláudio Maretti é meu herói. Afinal de contas, ele – além de todo esse valor humano e profissional, esse brilhantismo formidável – é meu genro querido, marido de minha mais do que amada filha Patrícia. Tenho ou não o direito de ser sogro coruja? Bom dia.

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