MMBCTCT: machos, brancos, com terra, com teto

picture.aspxFico incomodado: não há qualquer movimento ao qual eu possa me integrar. A exceção teria sido a “Gaviões da Fiel”, mas não é movimento. Sinto-me perdido.

Vejo movimentos gays, embascaco com a alegria do pessoal, mas, heterossexual assumido e feliz, eu não seria bem recebido pela galera. Vejo movimentos negros, embasbaco também, mas me constranjo: no Brasil, passo por branco, mas, nas “Oropa e França”, seria visto como negro. Afinal de contas, descendente de árabe, já ouvi, de gentis donzelas, ser de azeitona a minha cor.

Vejo, também, movimentos sem terra, quase me entusiasmo para participar dessas andanças, invasões, acampamentos. Ora, ser-me-ia agradabilíssimo tomar posse de um sitiozinho – nem precisava ser fazenda – para plantar milho de pipoca, enjoado que estou de “pop corn”. Quero, mas desisto, pois já tenho um jardim e é o que me basta.

O movimento dos sem teto não me atrai, pois acho deselegante invadir casas, apartamentos, hotéis. E teto eu tenho, não posso reclamar, apesar de ter trabalhado uma vida inteira para consegui-lo, sem cargo político e sem invadir casa de ninguém. O exemplo me veio de meu avô, imigrante aqui chegado apenas com a roupa do corpo. Mascateou por sítios e cidadezinhas, sobreviveu. E o Stédile nunca ouviu falar de meu avô, um sem-terra, sem-teto, sem-pátria.

Vejam bem: não reclamo. Apenas sinto falta de participar de algum movimento, entre tantos que existem. Apenas isso. Essa arruaça toda pelas ruas, nas praças, até no Congresso, é farra contagiante. Fiquei com vontade de cair na gandaia nacional, nada mais do que isso. Se é para farrear, farreemos todos, ora bolas.

Tenho ouvido, de algumas mulheres, suspiros, como que lamentação: “Falta homem…” Fico chateado. Por isso, resolvi reagir. Pois, mesmo admitindo esse tempo de escassez masculina, tenho meia dúzia de amigos másculos, machos para ninguém botar defeito. E o que é um macho para ninguém botar defeito? Quando existe, é aquele que, em nenhum momento, discute preferência sexual, hesita, duvida. Macho para ninguém botar defeito não filosofa, pois já sabe: macho é macho, fêmea é fêmea; lé com lé, cré com cré. E estamos conversados.

No melhor estilo John Wayne ou Mr Bush, irei contar com esses amigos para uma cruzada que pretendo deflagrar, um movimento de que serei o presidente de honra e perpétuo: o MMBCTCT. É óbvio que MM significa Movimento Machista. Após se selecionar os machos, iríamos para o B, de branco, deixando claro ser Movimento Machista Branco pois deve haver, por aí, algum Movimento Machista Negro. Como branquela não entra em movimento negro, negro não vai entrar no meu movimento branco, falô? Tem que dar empate.

Com meia dúzia de homens brancos, seria uma conquista, convenhamos. E todos eles teríamos um teto, os CT, Com Teto. Então, seria o MMBCT, Movimento Machista Branco Com Teto. E essa meia dúzia de machos brancos com teto precisaria ter pelo menos um jardinzinho, para ser outro CT, Com Terra. E eis aí, criada, a nova força na gandaia nacional: o MMBCTCT, um já vitorioso Movimento Machista Branco Com Teto e Com Terra.

Já pensei em convidar o Luiz Favre, marido da Martha Suplicy, para patrono do movimento. Branco, ele é. Com teto e com terra. E, segundo consta, macho algumas vezes comprovado. Com sua influência junto ao companheiro Lula, nossa inscrição deverá ser tranqüila. Dou-me, porém, uma pausa, que preciso descansar. Macho, branco, com terra e com teto também tem direito, que ninguém é de ferro. (Ilustração: Araken Martins.)

Deixe uma resposta