Nada de novo sob o Sol

Houve tempo em que colecionei frases escritas em bumbuns de caminhões. Fui, a pouco e pouco, formando um verdadeiro livro de sabedoria popular. O saudoso João Chiarini foi ainda mais longe: colecionava frases e palavrões escritos em banheiros públicos, num tempo em que estes eram absolutamente sujos. Tenho-os guardados comigo, alguns dos achados do velho João.

Ditos populares são, em meu entender, mais do que apenas ditos: lições de sabedoria que a experiência de vida leva gerações a transmitirem-na para outras. Quem souber aproveitar que aproveite. Quem não souber, há que se danar sempre. Mas isso também não é novidade, pois experiência alheia não serve para nada. E nem mesmo para quem já a tem. Ora, o que irei fazer com a experiência que adquirir depois de tantas tolices se elas, as tolices, eu não mais irei cometê-las? Talvez, o fruto bom da experiência seja isso: não repetir o erro. Logo, o que os mais velhos sabem deveria servir aos mais jovens. Mas não serve. Cada um tem que se atirar no precipício para aprender que realmente é precipício.

Quanto mais vou vivendo, mais vou descobrindo o valor de realidades ocultas ou transformadas em farsas por equívocos ou por deliberação. Quando se mergulha na mitologia, no estudo de símbolos, nas religiões comparadas – algo que, em minha vida, passou a ser o pão cotidiano – mais se descobre que, além de sagrados para muitos, os chamados livros santos são, em especial, livros da sabedoria, coleções de experiências humanas milenares que, de tanto se repetirem, se tornaram verdades fixas.

Há um vendaval arrostando a civilização nestes tempos de transição. Parece que nada sobrará, nada ficando nem mesmo de pedras sobre pedras. Resistirão e sobreviverão, no entanto, tudo aquilo e todos que tiverem raízes profundas fincadas na história. As superficialidades serão e já estão sendo dizimadas. O próprio mundo que vimos construindo – esse, da valorização do descartável – está provando ser ele próprio também descartável. O novo assusta e incomoda, mas o perigo está no novidadeiro e no simples modismo. Pois o novo é, verdadeiramente, apenas o antigo atualizado. A novidade é passageira. O novo, após ser assimilado, agarra-se às raízes.

Estamos assistindo a um novo parto da humanidade. O homem volta a gerar-se a si mesmo e não consegue se entender como criador e criatura ao mesmo tempo. Partos são doloridos e nem sempre geram frutos bons. Pois há gerações que conseguem parir monstros. Talvez, na perplexidade dos tempos, estejamos com esse receio, o de estarmos parindo monstros que nos fogem ao controle imediato. Nem sequer ainda permitimos que a poeira baixasse e já queremos ver o que está no horizonte. Como ver algo além, se estamos apenas olhando para os nossos umbigos?

Todos os povos têm seus livros sábios, suas verdades sagradas, seus princípios que, se atingidos, se profanam. Tenho, para mim, que uma olhadela, ainda que rápida, no Eclesiastes – um dos livros da sabedoria judaico-cristã – nos levaria a reflexões mais sérias e honestas. Ora, lá está anunciado, há milênios, nada haver de novo debaixo do Sol.

Apenas para lembrar, quando pensar não mais se pensa e refletir nem mais se sabe o que é:

[quote]“Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
(…) O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós. (…)”[/quote]

Bom dia.

Deixe uma resposta