O cordeiro e o bem-amado

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Escrevo um dia antes do jogo entre Brasil e Alemanha. Não sei o que irá acontecer e nem quero pensar. O medo é total e a covardia, a de sempre. O Deus Único – dos monoteístas judeus, cristãos e islâmicos – não tem nada a ver com isso. No entanto, os deuses do futebol existem, agem, atuam e interferem. Quem não souber invocá-los será vítima da cólera deles.

Que os devotos do candomblé – pelo menos, eles – façam, pois,  suas rezas bravas com todo o fervor. Pois não podemos nos esquecer de que os alemães – desde a antiga Germânia – provêem de uma ascendência complicadas de galeses, de celtas, gauleses, uma verdadeira salada de povos com deuses terríveis e guerreiros. Morro de medo, por exemplo, que eles invoquem a deusa celta  Andastra, que gostava de sacrifícios de éguas e de seres humanos.  Que os terreiros baianos nos protejam!

Sei lá o que irá acontecer, o que deve ter acontecido. Mas estou com a consciência tranqüila de ter feito a minha parte, por pequenina  tivesse sido. Preveni e antevi, ninguém pode negar-me isso. Antevi, por exemplo, que haveria uma festa no Paraíso, o Brasil verdadeiro explodindo de alegria e encantando o mundo. Aconteceu. E preveni quanto aos mistérios do futebol, ao esoterismo que o cerca, ao contrário do que pensam os “atletas de Cristo”, que, bobamente, acreditam que Ele possa influir no resultado. Futebol é o universo do mistério, povoado de bruxas, de feiticeiros, de deuses e de demônios.

É por isso que ateus e materialistas – os que se dizem racionalistas – não podem e nem deveriam participar do futebol como dirigentes e organizadores. Um macumbeiro de qualidade é mais útil do que o José Maria Marin, homem da CBF que ninguém sabe o que ainda faz por lá. Um curandeiro entende mais do que Monsieur Blatter, chefão da FIFA, esse covil de adoradores do deus-dinheiro. O Olimpo está atento. E não perdoa ninguém.

Foi – podem crer – o que aconteceu com o coitadinho do Neymar. Só pensaram nele como craque, grande craque, um dos melhores do mundo, dono de já imensa fortuna, valorizado no mercado do futebol. Mas se esqueceram de que, aos poucos, Neymar já se tornava quase um deus do povo. Era e foi esse o perigo. Os deuses do Olimpo não admitem concorrência. Quando humanos tentam brilhar mais do que eles, quando o povo cria deuses, eis que os deuses verdadeiros se tomam de cólera, numa inveja sagrada, e abrem suas sacolas de maldades. Exigem sacrifícios dos que ousaram chegar a seu nível. Aconteceu com Pelé, lembram-se? Já era deus do futebol aos 22 anos. Os deuses o castigaram. Aconteceu, agora, com Neymar, também quase deus aos 22 anos. A cólera do Olimpo transbordou. E Neymar foi o cordeiro imolado.

Felizmente, uma criatura encantadora – por outro lado – está protegida e amparada, pois sua humanidade é totalizante, um moço feito de carne e de osso, de alma e coração, sem qualquer veleidade de ser deus. Esse Davi Luiz é o bem-amado do povo, do mundo. As crianças estão apaixonadas. Os pais gostariam de adotá-lo como filho ou que ele se tornasse genro preferido. Os idosos – como eu, por exemplo – querem carregá-lo no colo ou desmanchar os cachinhos de seus cabelos. Ou apertar-lhe as bochechas e dar-lhe beliscões no furinho do queixo.

Davi Luiz tem a energia incontrolável de um potro selvagem; e a vitalidade de um touro; e a alegria maliciosa de um anjo de Botticelli. E a doçura de uma criança. Neymar foi sacrificado por ter-se tornado deus. Davi Luiz é amado por sua profunda e bela humanidade. Contra isso, os deuses do Olimpo nada podem fazer. Bom dia.

1 comentário

  1. Eloah Margoni em 09/07/2014 às 12:03

    Adorei essa crônica! Muito criativa, simpática, cheia e referências encantadoras ao desconhecido e à “sorte ou azar”.
    Hoje, na quarta-feira, após o jogo Brasil e Alemanha, vemos que, afinal, os deuses do Olimpo gostam também do Neymar e o pouparam… Escreveram certo ( para o garoto), através de coluna quebrada…

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