O poder da bactéria

BactériaO pouco que sei de Biologia aprendi no colegial, em priscas eras, em disciplina que se chamava História Natural. Admito que até gostava de estudar aqueles temas que me pareciam fascinantes, tendo a vida como o centro de tudo, o alfa e o ômega. Voltei a estudar alguma coisa a respeito, num curso de Bioética, assunto que me interessou até mesmo pelo nome, já que não entendi o porquê do termo. Depois de dois meses, com três noites de aulas semanais, saí ainda mais complicado. Se já não entendia, passei a entender menos ainda.

Há quase um tabu a respeito das certezas da ciência, como se fossem absolutas. E, no entanto, são relativas, certezas provisórias. Uma nova descoberta pode fazer ruir toda uma engenharia, como aconteceu quando se descobriu não ser, a Terra, plana. E, até hoje, pensamos como se assim ainda fosse: o céu está lá em cima, o inferno abaixo da superfície, o Sol – que está imóvel – continua aparecendo, indo-se embora, o Sol que se põe, o Sol que se levanta. Se, sem o percebermos, ainda pensamos como se a Terra fosse plana, é terrível a soma de nossos equívocos comportamentais. E isso começa quando cada ser humano acredita ser ele próprio o centro do universo, a pessoa mais importante do mundo. O egocentrismo leva a todas as formas de deturpações e desarranjos.

Sei, portanto, que nada sei dessa bactéria que apareceu por aí e que se alimenta de arsênico, o veneno. Mas, pela reação mundial e excitação dos entendidos, eis que essa bactéria tem o poder de permitir que se reavaliem muitas certezas, podendo ser o caminho inicial para se entender a possibilidade de existir vida em outros planetas. Pode, pois, ser o começo para o espírito de Ícaro dos cientistas ir em busca de um ET de verdade pelas imensidões dos espaços. Fico com medo. Pois a capacidade destrutiva do ser humano estaria, tão logo viesse a descobrir vida em outros lugares siderais, perfeitamente preparada para destruí-la. Já se sabe que queremos dominar a Lua, chegar a Marte, diante da hipótese absolutamente plausível da destruição de nosso Planeta. De destruição em destruição, o ser humano haverá de completar o seu ciclo existencial pelo menos na natureza terráquea.

Por isso, quanto mais coisas acontecem de ruim – mesmo que absurdamente originárias de coisas boas – mais me espanto e me admiro da visão dos tais livros sagrados que, para mim, mais do que sagrados, são livros da sabedoria. Aquela história, por exemplo, de o homem ser expulso do Paraíso por ter comido do fruto da árvore do conhecimento está, em meu entender, muito clara. E verdadeira ou profética. Pois, quanto mais sabemos, mais complicamos, nessa pretensão maluca de nos aproximarmos da onipotência de algum deus. Os bens causados pelas descobertas a partir do átomo acabam se transformando em quase nada diante das ameaças das bombas nucleares e do que aconteceu antes.

De minha parte, eu odiaria estar vivo para ver a clonagem de seres humanos. Pois, com toda certeza, iríamos clonar não uma Tereza de Calcutá ou um Gandi, mas sim milhares de seres-robôs que se colocariam a serviço da produção e dos donos dela. E encontrar um ET de verdade e, então, ver a quase certa tentativa de cientistas de quererem cruzá-lo com um terráqueo para ver que outro ser pode aparecer do cruzamento. Estou acreditando, hoje e para mim, que a maior bênção para o ser humano seria desaprender. Mas sei lá. Bom dia.

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