Pepino se torce de pequeno

pictureNoite dessas, estive com educadores, intelectuais, artistas. Deslumbro-me com a vibração de tanto idealismo, esperança, fé, certezas. O mundo move-se pelos músculos da juventude, por neurônios inquietos, almas excitadas. Acredito cada vez mais que velhos deveriam ficar em casa, aquele descanso eterno de que até Deus fez uso. Pois o exemplo veio dele: fez o mundo em sete dias e, depois, descansou. Descansa até hoje. O que era para ser feito, feito foi.

Fico assustado com algumas pessoas que, já na idade de ouro do Tempo, insistem em dizer que, se pudessem recomeçar, fariam, de novo, tudo o que fizeram e como fizeram. Eu faria quase tudo diferentemente. Se o que foi vivido valeu como experiência, isso não redime erros e tolices. Meus arrependimentos são imensos e intensos, especialmente por ter levado a vida tão equivocadamente a sério. Ora, há a seriedade da vida, a vida é séria. E a seriedade dela está, também ou especialmente, na liberdade e na responsabilidade com que se deve fruir da bem-aventurança. Levá-la equivocadamente a sério significa cultuar a mesmice, a chatice, falsos e tolos moralismos, enquanto a seriedade de viver não prescinde do riso, dos prazeres, da alegria. O homem, nos grandes equívocos, passa a levar-se a si mesmo a sério, esquecido da vida. E torna-se um chato.

Velho deve ficar em casa, olhando o que foi feito e o que não se fez. A um pequeno grupo daqueles moços, falei, em separado, porque não sirvo mais para tais reuniões, para tais expectativas. Não sirvo porque, hoje, se eu fosse educar, eu começaria deseducando. Alguns falam em desconstruir. Eu derrubaria quase todo o edifício, a construção mal-feita ou feita de má fé. A ditadura deseducou os que tinham sido educados para, desmantelando a construção, educar à sua maneira. Educar é dirigir, orientar, o sentido do “ducor” latino, o de conduzir, de endireitar as varetas, tentar, como diz o povo sábio, “torcer o pepino quando pequeno.”

Não há, penso eu, qualquer possibilidade em sequer se referir à educação se não houver respeito. E, a partir das próprias casas, respeito é o que menos existe. A geração do “é proibido proibir” acabou fazendo ruir edifícios sólidos, acreditando todos fossem superados ou inúteis. Confesso que minhas últimas experiências pessoais em palestras para crianças e adolescentes foram-me amargurantes. O desrespeito de alunos em relação a professores e idosos era, nessas experiências que vivi, quase total, como se os garotos estivessem nos quintais de suas próprias casas.

A minha geração – a que viveu a juventude dos anos 1950/60 – acreditou em rompimentos de tabus e o conseguiu, conquistando novos espaços de liberdade, rompendo preconceitos rançosos. Mas, em avaliação posterior, é honesto admitir que, em vez de abrir portas e janelas, as escancaramos, permitindo promiscuidades e licenciosidades que, erroneamente, parecem ter-se transformado em direitos. Ora, não há educação sem um mínimo de civilidade que a preceda. Não há educação sem respeito. Não existem educadores no desrespeito. O país jamais terá educadores se estes não forem respeitados como profissionais e como pessoas, se não houver a reverência que a educação exige.

Talvez, respostas não tenham ainda surgido pela ausência da pergunta fundamental: queremos mesmo educar? Em caso afirmativo, que educação estamos propondo? Ainda acredito na voz antiga do povo: “pepino se torce de pequeno…” Bom dia.

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