Petrobras e malandros

picture (7)Lembro-me, ainda adolescente e no então curso ginasial, das grandes passeatas pelas ruas, da mobilização nacional, do grito que unia e congraçava o Brasil de Getúlio Vargas: “O petróleo é nosso.” Fernando Henrique devia estar no início da universidade e o tucanato petulante nem sequer deveria ter nascido, penugens ainda escondidas. A Petrobras foi, talvez, o segundo maior sonho dos brasileiros em todos os tempos. Pois o primeiro, depois da derrocada na Copa de 1950, era a conquista do título de campeão mundial de futebol.

Somos pentacampeões de futebol. E a Petrobras é o símbolo mais vigoroso dessa vocação brasileira para um desenvolvimento singular e único, o de nos tornarmos uma grande nação e um grande país sem a perda de nossas principais características como povo, o “savoir vivre”, a gentileza que muitos querem desmentir, a alegria, o jeitinho que nem sempre é um mal, pois a diplomacia universal vive de jeitinhos.

A Petrobras – está na hora de voltarmos a gritar nas ruas, a empunhar bandeiras e a mandar para casa os entreguistas de sempre – é intocável. Mais do que isso: absolutamente intocável, como patrimônio nacional e, hoje, também como patrimônio afetivo da nação. O terrível, no que está acontecendo – quando PMDB e PSDB se unem para instalar uma CPI chantagista – é a inacreditável desfaçatez de homens sem qualquer crédito, malandros conhecidos e já repudiados pelo país tornarem-se autores de uma farsa que, na realidade, nada mais esconde do que outra grande negociata política nesse conventilho em que se transformou o Congresso Nacional.

Com toda certeza, deve haver erros na Petrobrás, deve, até mesmo, haver irregularidades. Como há em todas as instituições brasileiras, certamente nas grandes empresas e até mesmo nos botequins de cada esquina. Mas, em nenhum deles, há tanta sordidez, tanta corrupção, tanta sujeira, tanta malandragem quanto no Congresso Nacional, onde mais ninguém escapa. Quem são os senadores para exigir CPI seja lá do que for, se mal conseguem tirar das botinas as sujeiras de suas caminhadas? Quem é um Arthur Virgilio, personalidade histérica, sempre disponível a vulgaridades naquela que deveria ser a casa mais serena da República, o Senado? Como o Congresso Nacional – atingido por mazelas sem fim, por escândalos acabrunhantes – se arroga o direito de fiscalizar ou de averiguar seja o que for neste país? O Congresso faliu, a classe política não merece mais respeito, especialmente porque se tornou quase que impossível falar-se até mesmo de exceções. Vide o Senador Suplicy, o deputado Gabeira, que foram merecedores do crédito da nação por condutas políticas tidas como impolutas. Gabeira, dando passagem para filhos com dinheiro do povo; Suplicy, prestigiando os passeios da namorada com as mesmas passagens pagas pelo povo. Não há mais exceção.

Mexer com a Petrobras é mexer em vespeiro, um vespeiro cívico. Essa CPI – que tem figuras como Renan Calheiros e Jereissati entre alguns de seus líderes, homens comprometidos – pode ser um grande benefício para este país, em vez de ser um mal. Pois tocar na Petrobras acabará causando o que falta para uma revolta popular que a higienização do Congresso Nacional. A malandragem de velhas raposas do PSDB e do PMDB pode ser o tiro que saiu pela culatra, provocando a rebelião popular que estava, apenas, à espera de uma faísca para a explosão. Nossos políticos não merecem mais crédito. Se a Petrobras for desmoralizada, este país entrará em colapso.

Que se destrua a política da canalhice, que sobreviva a Petrobras. Esse é um dever de todos. Bom dia.

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