Piracicaba, cidade provinciana

picture (5)Ora, eu sei, como não haveria de sabê-Io? Piracicaba é uma cidade provinciana, caipira, cidade que dizem ser de médio porte – mas que é, ainda, pequena – com preconceitos, lutas de poder, pequenos feudos, grupos que se fecham e que pensam dividir um bolo que não existe.

Sim, eu sei: Piracicaba vive de fetiches, há nichos onde pessoas tolas pensam que, por se cumpliciarem, são poderosas, sendo medíocres; há guetos em Piracicaba, cada qual mais tolo do que o outro, guetos fechados em si mesmos. E, no entanto, são tantos os guetos que nenhum deles tem a força ou o poder que se dão: há guetos econômicos, guetos jornalísticos, guetos industriais, guetos comerciais, guetos intelectuais, guetos universitários, guetos sindicais, guetos sociais, tantos guetos quantos se queira ou se imagine. E isso é bom, salutar.

Cada gueto pensa que é único e, então, todos eles se confrontam sem que sequer se dêem conta de que estão confrontando-se. É um teatro do ridículo. E, no entanto, é justamente por isso – por ser um teatro do ridículo humano – que Piracicaba é bela. Aqui, acontece a vida, com os seus dramas e tragédias, com pantomimas e comédias.

Cada pessoa pensa saber da vida da outra e, assim, os ódios são disciplinados, civilizados: odeia-se o outro -– por ser de um outro gueto – mas se convive com ele. Isso é província.

E uma das interpretações etmológicas de província é a do “pro vincere”, esse sentido de vencer, de ir sempre para a frente. As metrópoles não passam de uma soma de pequenas províncias. Vejam São Paulo: a província do Brás, a província do Bixiga, a província do Bom Retiro, uma soma de províncias. E vejam Nova York: a província do Bronx, a província do Harlem, a província do SoHo, soma de províncias.

Eis aí, pois, a razão de meu amor por Piracicaba, um amor de coração e de razão, de sentimento e inteligência, esse conjunto disforme e antagônico que forma uma paixão. Eu amo Piracicaba exatamente porque continua sendo – apesar dos tolos que a querem metropolitana – província.

Por onde quer que se ande, de extremo a extremo — de Tupi a Santa Terezinha, de Vila Rezende à Pompéia, de Artemis a Dois Córregos – sempre há alguém que se conhece. Escrevo isso para, ainda outra vez, dizer o porquê de não ter-me ido embora.

Conheço um pedaço do mundo e sei que ele é uma grande província. Assim, província por província, prefiro viver na minha, onde posso andar sem lenço nem documento.

E não há, no mundo, província tão provinciana como Piracicaba. Que bom! E bom dia.

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