Um Silva, doutor; o outro, encantado.

No Brasil, o sobrenome Silva está entre os mais comuns usados pelo povo. Há personalidades e pessoas simples, multidões de desconhecidos, de anônimos. Ser um “Zé da Silva” é ser gente do povo, na figurada linguagem popular. E o Brasil, nesta última década, conheceu dois da Silva que mudaram a nossa história: Luís Inácio Lula da Silva, o presidente vitorioso e comandante de um novo país; José Alencar Gomes da Silva, seu vice-presidente por duas vezes, que se tornou um verdadeiro símbolo de retidão, de caráter e de heroísmo perante as agruras da vida. Lula construiu um novo Brasil tendo José Alencar como seu companheiro; José Alencar conseguiu vencer a morte por mais de vinte vezes, num testemunho de amor à vida que o engrandeceu ainda mais como pessoa humana.

Formaram uma dupla inseparável, como que tivesse se unido para provar a possibilidade de um entendimento altivo, civilizado e nobre entre capital e trabalho. Lula, o operário, unido ao grande capitalista. Ambos querendo um novo país. Lula, um retirante sertanejo, quase analfabeto, que fez de sua inteligência e de sua tenacidade uma força imbatível que o transformou em líder nacional. José Alencar, filho de pequenos comerciantes, que, com ombridade e retidão, se tornou um dos empresários de maior sucesso no Brasil. São dois Silva do povo que se tornaram dois amados Silva perante o povo e na história.

Em Coimbra – e para quase desespero de uma imprensa rançosa e rancorosa – o retirante, o operário, o sindicalista, o líder popular e reconhecidamente o mais amado presidente da República do Brasil após Getúlio Vargas – recebe o diploma de Doutor Honoris Causa pela mais antiga universidade portuguesa. Um título de Coimbra é honraria para poucos. E, entre estes, está Luís Inácio Lula da Silva, o agora Doutor Luís Inácio.

Numa urna funerário, José de Alencar Gomes da Silva está sendo velado, finalmente derrotado pela morte, mas deixando na lembrança de seu povo a luta heroica em defesa da vida, de amor à vida. Ele falou, antes de ir-se, aos que o admiravam pelo destemor diante do fim: “A morte você não conhece. Por isso, não deve teme-la. Deve-se temer a desonra, pois esta mata.”

Lula recebe o título de doutor. José de Alencar ficou encantado. Os Silva continuam juntos nas singulares histórias contadas e arquitetadas pela vida. Bom dia.

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