Várzea perdida, juventude roubada
Quando se fala em geração, pensa-se, inicialmente, em tempo médio de vida humana, grupos de pessoas da mesma época, ascendentes e descendentes. No entanto, pouco se lembra e se fala de geração ser o oposto de corrupção. Ambas – geração e corrupção – são formas de mudanças substanciais. A primeira é criadora; a segunda, destruidora.
Já vivemos tempos geracionais, criadores, procriadores, tempos que fizeram com que aquilo que não era passasse a ser. Produziam-se, então, transformações positivas, na transmissão de virtudes e de valores de ordem superior. Agora, nestas últimas décadas de corrupção transformadora, vivemos o desprezo ao ser humano em favor do materialismo irracional e desenfreado. Corrompe-se o que foi bom e pouco se gera de generoso.
Aconteceu em todos os níveis da vida. Na educação, na família, na sacralidade das coisas, nos princípios, na degeneração dos valores, na sociedade em geral. A palavra degeneração corresponde exatamente a esse efeito maléfico da corrupção em relação à geração, saindo do melhor para o pior. São, pois, tempos corruptos e degenerados, no qual – pelo menos por enquanto – se proclama a vitória do materialismo sobre os valores morais e espirituais.
No nosso cotidiano, em nosso estilo de vida – em nome de um desenvolvimento mentiroso e falso – já nem mais percebemos o fantasma onipresente da corrupção. Até nos mínimos detalhes, ou naquilo que poderia parecer desimportante. Deixamos de gerar, aceitamos a degeneração. E vamos criando vítimas atrás de vítimas, das quais as mais sofridas são a infância, a adolescência, a mocidade. A estas, permitimos fossem roubados direitos e oportunidades enriquecedoras em seu crescimento geracional.
A morte da várzea, é um desses valores degenerados e corrompidos. O “futebol de várzea” era o espaço privilegiado onde crianças, adolescentes se reuniam não apenas para aprender a jogar futebol, mas ao precioso exercício da convivência, da sadia experiência comunitária. No lugar de drogas e bebidas, havia um campo e uma bola. No lugar de bandidos, havia companheiros. No lugar de desesperanças, havia sonhos de futuro. O “futebol de várzea” criava um espírito competitivo regulado por normas, leis, regras. Até como paixão, os “jogadores de várzea” conheciam os limites e, mesmo nas grandes contendas, havia o “direito do outro”.
Sabe – ó, observador indiferente! – aquele conjuntinho de prédios ali ao longe? Era uma várzea. Sabe – ó, cidadão conivente! – aquela rotatória, aquela avenida, onde a prioridade são os automóveis? Eram várzeas. E, parodiando Castro Alvez, “a várzea era dos jovens como o céu é do condor.” Mas foram corrompidas e degeneradas, pois é próprio do materialismo corromper e degenerar o que é verdadeira e belamente geracional. A várzea gerava jovens que se forjavam nos desafios do futebol. O desaparecimento de espaços públicos causa o ócio degenerativo.
Havia um apaixonante Campeonato Varzeano de Futebol, havia – não sei se ainda existe – uma pujante Federação Piracicabana de Futebol Amador. E ela agregava clubes que eram como que a razão de viver de milhares de crianças, jovens, adolescentes. Alguns de que me lembro: MAF, Jaraguá, Palmeirinha – que construiu seu pequeno estádio – l Boca Juniors, União Porto, União Monte Alegre… Além dos times infanto-juvenis do XV e do Atlético. Aos domingos, os bairros eram uma festa esplendorosa, com uma juventude que tinha objetivos e razões pelos quais lutar. O futebol e a várzea eram instrumentos geracionais.
Esse instrumento foi, também, vítima da corrupção degenerativa. E o inevitável – ó, piracicabano omisso! – aconteceu: várzea perdida, juventude roubada. E um povo enfraquecido. Bom dia.
Faltou mencionar o Nacional, clube que tinha o cunhado de um de meus melhores amigos de infância, o José Gervatosky como jogador – o Nicola, que acompanhado do Zu e do Dado, ajudavam a defesa do seu time a ser impenetrável. Jogavam no campo do Palmeirinha. Não podemos deixar de mencionar a destruição de um grandioso bosque, para a construção do Barão de Serra Negra, que já tinha previsão para outro local – no final da hoje Av. 31 de Março. Mas, o Archimedes quis porque quis que fosse no lugar do bosque, talvez para ter uma das maiores torcidas do Brasil, com a ajuda dos mortos do Cemitério da Saudade.
Negadinha do A Provincia,
Rio-me de vocês, não viveram essa época gloriosa dos jovens caipiracicabanos…
Fui “Diretor de Publicidade” da Esportiva Estrela Dalva, o mais organizado time de futebol varzeano, o Presidente era o Alan Perches do Nascimento, filho do Julio Nascimento do Clube de Regatas Piracicaba, os jogadores eram muito bons. Tinhamos o Campeonato Varzeano patrocinado pela Liga Piracicabana de Futebol, a séde foi cedida pela UDN, em um prédio onde no terreo tinha o Bar Comercial e e um fotografo não me lemrbro se o Lacorte ou o Filetti.
Uma vez fomos convidados pelo Picolino, ex-15, para jogar em Leme, contra o reforçado time da “cidade”, fomos de perua dos Gianetti, no caminhou furou o pneu completamos a viagem de carona em um caminhão, chegamos em cima da Hora, os jogadores trocaram de roupa e pau na maquina. Aos 10 minutos o Guardinha (Dorival Guarda) pena torta muito vaiado acertou um petardo da esquerda do meio campo, 1 a 0 o jogo terminou 3 a 0.
A volta triunfante para Piracicaba, com paradas em Limeira e Rio Claro para um namoro …
Tem um site muito legal do Sesc Piracicaba com ênfase na várzea da cidade nos anos dourados: http://varzea-esportebretao.blogspot.com.br/2010/06/varal-das-camisas.html
Na “url” http://varzea-esportebretao.blogspot.com.br/2010/06/selecao-dos-cartorios.html tem a foto do time (acho que a camisa era do River Plate) onde meu pai, Luizinho Arruda era o centroavante – interessante é que a camisa do goleiro registra o distintivo do XV.
Saúde a todos…