E chorar virou notícia

neymar-choraAo nascer, o bebê, a primeira coisa que faz, é chorar. Penso que de susto, de medo. Pois foi expulso do calor e do aconchego de seu mundo, sendo entregue à luz. A mãe deu-o à luz. E ele, agora sem onde se agarrar, vê-se à luz, deixando seu paraíso – o útero da mãe. E chora. Lágrimas são suas primeiras palavras.

O bebê parece repetir – mas sem qualquer culpa, coitadinho – a expulsão de Adão do seu paraíso. Adão , certamente,  também chorou. Lágrimas de arrependimento, lágrimas de raiva por Eva, de reconhecer a própria burrice. Enfim, o que se depreende disso é que o ser humano chora desde o nascer. Mais do que sina, é uma dádiva: chorar é um testemunho. Segundo a mitologia, a lágrima é “gota que morre evaporando-se após ter dado testemunho”. De dor, de sofrimento, de angústia, de desespero, mas, também, de alegria,  de êxtase, de paz, de emoção, de comoção.

A lágrima é comparada à pérola cuja preciosidade é cultuada pelos povos como simbolismo do que há  de mais valioso também na vida espiritual. Para alguns, é “a gota de chuva caída do céu”; para outros,  lágrimas são “gotas de âmbar”  derramadas pelas “filhas do Sol”; no Cristianismo, a lágrima-pérola ilustra o “nascimento espiritual de Cristo no batismo de fogo”. E iríamos precisar de  livros e mais livros para apenas tentar discorrer sobre o significado da pérola e da lágrima em todas as culturas.

Deveríamos pensar nas palavras de Cristo, relatadas por Mateus, de a pérola representar o “Reino dos Céus” e que  “não deve ser jogada para os porcos.” Logo, não lançar pérola aos porcos significa que não se deve, também, derramar lágrimas para eles.  Isso inspira outras reflexões.   Por exemplo: a maldita invenção de que “homem que é homem não chora.” Nessa afirmação está, sem dúvida alguma, uma das pedras fundamentais da criação do machismo. Ou seja, macho não chora. E eis a penitência destinada aos homens: nunca chorar. Nem de dor, nem de alegria, nem de sofrimento, nem de prazer. Ser uma estátua de pedra. Com isso, implantaram-se o ódio, a violência, o preconceito, a desvalorização da mulher que, por sua  sensibilidade, derrama rios, lagos de lágrimas. E, portanto, de pérolas.

Se, no entanto, pensarmos na outra lição de  Cristo – “não jogar pérolas aos porcos” – o não-chorar do homem tenha sido, talvez,  uma advertência: “não chore, não derrube suas lágrimas para ou pelos porcos”. (Que existem também nos meios de comunicação.)  Assim sendo, o homem deve chorar por quem merece e por si mesmo, por suas dores, suas fraquezas, seus cansaços. E suas alegrias.

Por que tantas críticas, tanto desprezo, tanta indignação diante das lágrimas de Neymar? Não foi para porcos que ele chorou. Chorou por existir uma lei superior a toda a mediocridade: “Quem não chora não é digno dos olhos que tem”.

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