Ela, eles, nós

Entristeceu-se o Brasil daqueles que a conheceram. Uma tristeza estranha, algo misturado a agradecimento e a veneração. Ela foi amada como poucas mulheres. E admirada e reverenciada. Maria Ester Bueno está entre aquelas estrelas que – nos 1950 e meados dos 1960 – formaram uma constelação que nos levou a acreditar estarmos,  por fim, deixando de ser o País do Futuro.

Ah! Não dá para contar.  Foi como se todos os deuses estivessem de ótimo bom humor e, então, decidissem que a humanidade viveria uma era de alegria quase sem fim. No Brasil, as luzes estrelares brilharam como se jamais se fossem apagar. A baiana Marta Rocha – de beleza indefinível – era eleita, em 1954, a segunda mais bela mulher do mundo. (Tinha duas polegadas a mais nos quadris…)  1958: primeiro campeonato mundial de futebol, com o surgimento de um pequenino deus negro, Pelé. 1959:  a doce Maria Ester,  campeã do tênis feminino em todo o mundo. JK construindo Brasília,  espantou o planeta. E tudo acontecendo ao som e ao embalo da Bossa Nova, considerada o jazz brasileiro.

Escrever sobre e pensar em Maria Ester Bueno,  no Dia dos Namorados, é fazer-lhe uma declaração de amor. E de agradecimento. Com  lágrimas de saudade.

Eles  

E eis que eles –jogadores de futebol – já estão na Rússia. Ainda que quase todos exerçam seus talentos fora do Brasil,  eles carregam, nas camisas, o orgulho de representar a nação brasileira. E insisto na palavra nação, pois, ainda, o somos. E o futebol – apesar de nossa  decadência também nele – é parte da alma de nossa gente. Como o samba,  a cachaça, o Carnaval. E como a esperança que alimenta  o povo carente, sofrido e ludibriado.

A Copa do Mundo é uma pausa diante de toda crise. Não nos esqueçamos de que, para ver o Santos de Pelé, até guerras foram interrompidas, no então Congo e na Nigéria. Os mal-humorados dirão tratar-se de um outro “ópio do  povo”. E daí? Não teria, um povo vivendo seus horrores, o direito de embriagar-se pelo menos por alguns dias? Se lhe falta pão, que se lhe dê, pelo menos, o circo. Mesmo porque  essa seleção parece inspirada por  Garrincha, bailarino, bruxo e  “alegria do povo. “ Que assim seja.

                Nós

Bem, nós… Nós começamos a respirar essa pausa, outra das tantas que existem em nossas vidas brasileiras. No cotidiano: pausa para o café, para as refeições, para dormir. No fim de semana: “Bem… Deixe para segunda-feira”. No final do mês: “Deixe para o mês que vem…” Fim de ano, a partir de novembro: “Agora, só o ano que vem…” E, no ano seguinte, tudo se repete. Como sempre. Reclamar? Do quê? Por quê? Rendamos graças por –  de esperança em esperança – a vida continuar sendo, para nós, feita de reticências, de vírgulas, de parágrafos, de pausas. Pois isso significa que as nossas páginas e história ainda não chegaram ao ponto final.

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