Ainda: perguntar não ofende.

Há pessoas que ou perderam o senso de ridículo ou que fazem, da simulação e dissimulação, um estilo de vida. Pelo que se lê em parte da imprensa piracicabana, há, pelo menos, três tipos de corrupção: federal, estadual, municipal. E a federal, em se tratando de Lula, parece ser a única que incomoda colunistas, colaboradores, críticos de plantão. O Brasil inteiro, por exemplo, fala do envolvimento do prefeito de Piracicaba na “corrupção nacional”. Há quem, em Piracicaba, queira a prova provada, autos conclusos, condenação do Supremo Tribunal Federal. E, pelo que se sabe, ninguém, da área jornalística pelo menos, esteve procurando no Fórum local quais os processos em andamento ou encerrados, quais os envolvidos, os acusados, porque tudo se esconde sob o “segredo de justiça”.

Cobra-se, insistentemente, que Lula era obrigado a saber do que acontecia em seu governo. Sabe-se, porém, que Abel Pereira é ligado a Barjas Negri, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso (Negri assumiu o ministério quando da saída de Serra). Não se fala em governo do PSDB, nem se pergunta se Fernando Henrique ou José Serra sabiam do envolvimento de Barjas com Abel e outros. Mas alguns elementos que estiveram no governo Lula , como Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Freud Godoy são descritos dezenas de vezes ao dia como petistas. Abel Pereira, no entanto, não é tratado como lobista de um ex-ministro e prefeito tucano. Com didatismo, a imprensa relaciona o presidente Lula e os corruptos de seu governo e do partido envolvidos com a história do dossiê. O mesmo não acontece com Serra, Negri, Pereira, Vedoin e os deputados mensaleiros do Mato Grosso, que na época eram do PSDB.

A pergunta que se faz ainda, pergunta que não ofende: “Lula não sabia de nada? E Serra, não sabia de Abel? Se Barjas Negri era seu braço direito, como Serra não sabia dos sanguessugas atuando ali tão perto?” Mais: com tantas obras realizadas em Piracicaba na administração atual, Barjas pode ignorar as atividades de seu amigo Abel Pereira, das tantas empresas dele, dos relacionamentos?

Quando trata o leitor como idiota, certa imprensa – incluindo colaboradores que se portam como Catões de plantão – perde o respeito. É uma das explicações para as pesquisas de opinião pública estarem dando resultados tão favoráveis a Lula. É óbvio que o cidadão comum avalia: por que a corrupção de uns é noticiada, não o é a corrupção de outros? Por que corrupção em Brasília escandaliza, em Piracicaba não?

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