Promotor e degenerados.

Nunca será demais lembrar que, nos Estados Unidos – na longínqua mas marcante década de 1920 – foi a ação quase isolada de uma agente federal e promotor de Justiça, Eliot Ness, que deu o golpe mortal na máfia, que contava com o apoio de políticos, empresários e quase todo o poder constituído. Nos últimos anos, no Brasil – e há que se reconhecer a valorização disso no governo Lula – é o Ministério Público e, nos últimos tempos, a Polícia Federal que conquistam a confiança da população, em sua luta diuturna contra o crime organizado, que tem contado com a lastimável participação de políticos e homens públicos.

O Brasil cansou-se de corruptos e de corrupção, como se fossem, agora, marcas registradas da vida pública nacional, da classe política, da qual os poucos que escapam quase nada podem fazer. As vozes isoladas de, por exemplo, um Jefferson Peres e um Pedro Simon, no Senado, têm grande força moral, mas não resolvem. As estruturas apodreceram e se não se mudar toda a legislação político-partidária nada irá ocorrer de alvissareiro neste país em que a economia vai bem – como já o dissera um ditador, o General Médici – e o povo vai mal. Sem punição de culpados, nada pode ocorrer. E a impunidade é quase absoluta na classe política.

Em Piracicaba, a Polícia Federal começa a agir vigorosamente e os resultados surgem para surpresa de muitos que se consideravam impunes. Não se pode dizer o mesmo em relação a processos que correm pelo Judiciário, pois, quando se trata de políticos, são ações ocultas pelo “segredo de Justiça”, como se o povo – de quem emana o poder na democracia, ou do qual deveria emanar – não tivesse o direito de acesso aos meandros processuais que envolvem políticos. Louve-se, no entanto, o Ministério Público, que vem dando mostras de independência, apesar de algum silêncio em questões relativas a Piracicaba em questões que prejudicam a população.

Um exemplo: o livro da secretaria da Educação, já provado em primeira instância ser obra viciada com plágios, foi editado com dinheiro do FUNDEF, que é fundo para desenvolver o ensino fundamental. Dinheiro, portanto, destinado à Educação. A editora que recebeu quase 300 mil reais para confeccionar a obra eivada de plágios colocou à venda, comercializando, o livro que é obra oficial da Prefeitura. Ou seja: com dinheiro do FUNDEF, a Prefeitura permitiu a comercialização de obra educativa. E daí? A Câmara de Vereadores esboçou reação. Nada aconteceu. Se o Ministério Público não agir, o povo estará indefeso.

Um sinal de esperança diante da corrupção que também corre solta em Piracicaba é a informação de que denúncias, originárias de Presidente Prudente, da chamada “máfia das casinhas”, serão apuradas pelo Ministério Público de Piracicaba, através do dr. Fábio Salem de Carvalho. É uma garantia de isenção. Mas Piracicaba deverá estar atenta quanto às pressões políticas que desabarão sobre nossa cidade, pois o escândalo envolve altas figuras da política paulista e nacional. Que as lideranças comunitárias cerrem fileiras em defesa da seriedade do Ministério Público, para evitar que degenerados e depravados continuem agindo impunemente, acreditando estarem a salvo.

É isso que estamos querendo dizer: corrupção significa degeneração e depravação. Portanto, corruptos são degenerados e depravados. Atualmente, banalizou-se tanto o significado de corrupção e de corruptos que se faz necessário insistir na sinonímia: corruptio, na origem latina, tem o sentido de depravação, deterioração; depravatio é depravado, pervertido, corrompido; degenero, de degenerar, é o desonrado, indigno, vil.

Que políticos corruptos, portanto, se lembrem de que deixarão, para filhos, a herança de terem sido homens depravados, pervertidos, degenerados. E que os protegem ou que se silenciam diante deles não se esqueçam de que a intimidade com a depravação deprava.

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