“Delenda Unimep?”

É da tradição lembrar a frase atribuída a Catão que, em todos os seus discursos na tribuna romana, a pronunciava como objetivo, meta e propósito: “Delenda Cartago”. A proposta era para a destruição de Cartago cujo crescimento ameaçava Roma. ( A expressão completa é “ceterum censeo Carthaginem esse delendam.)

A partir daí, a expressão passou a ser usada em todas as ocasiões em que alguém, pretendendo iniciar algo novo, destrói o que já existia. Essa radicalidade foi condenada em todos os tempos a ponto de “Delenda Cartago” ter-se tornado um brado de protesto contra os que insistem, teimosamente, em destruições inúteis, os que buscam matar também o passado para construir um imprevisível futuro. “Delenda Cartago” passava a ser obsessão, teimosia, decisão por assim dizer alucinada por quem tomava a destruição como primazia absoluta sobre todas as coisas.

Pode-se, em Piracicaba, dizer-se que, semelhantemente, ocorre o mesmo em relação à Unimep, para estupefação da cidade, dos estudantes, de professores e de funcionários. Há uma determinação que parece clara: “Delenda Unimep”. Que se destrua tudo o que foi feito antes, que não se deixem testemunhas, que não se importe com sacrifícios anteriores, nem os suores derramados, nem com compromissos. E que, pelo visto, Piracicaba se dane, desde que a sua sonhada universidade se transforme em uma escolinha competitiva no mercado do ensino mercantilizado.

Quem passar pela Água Branca, pode ver a ainda interminada construção das faculdades Anhanguera, que os atuais administradores da Unimep parecem ver como mais uma de suas concorrentes. Será uma faculdade com cursos baratos, pois seus custos já se mostram baixos: tijolos, chamados “baianos”, pintados a cal, barracões com coberturas populares e, certamente, algumas lousas e cadeiras. Há outras faculdades também em Piracicaba e nas cidades vizinhas. Para o Conselho Diretor da Unimep, que elegeu Davi Ferreira Barros como seu gestor, a questão parece não estar mais em competir com qualidade, mas competir em barateamento de cursos e de custos.

A audácia é tanta e tal o desrespeito que Davi Ferreira Barros mostrou, ainda outra vez, a sua pretensão de Golias: irritado ao saber que a Adunimep entraria na justiça, já deu a resposta pretensiosa e desrespeitosa: “se o juiz reverter (acolhendo a ação), eu vou fechar a escola e entregar para ele administrar”. Essa truculência não é própria de um reitor de universidade. E muito menos de uma universidade com a tradição democrática como a Unimep. Se já não se respeita sequer a Justiça, respeitar-se-á o quê?

“Delenda Unimep”, parece estar posta na mesa a proposta. Para colocar, no lugar, uma revendedora de seguros, uma fábrica de pamonhas? Davi Ferreira Barros parece, infelizmente, ignorar outros métodos senão os que está adotando. Por aqui, começa a haver uma reversão também histórica: pequenos Golias (estudantes, funcionários, professores, intelectuais) enfrentando um grande Davi, que acredita mais no argumento da força do que na força do argumento. Davi está usando a armadura, a espada, a truculência; os pequenos Golias – quem diria? com a funda e a pedra do protesto e da indignação. Quem viver verá.

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