Jefferson e a falta de critérios.

A cada dia que passa, como que se confirma: parte do país perdeu o senso de critérios, incluindo parte também da imprensa. Bandidos e mocinhos estão no mesmo saco, vítimas e réus, culpados e inocentes. Abrem-se, a malandros, o mesmo ou mais espaços que se dão a pessoas honradas. E o caso do ex-deputado Roberto Jefferson passa a ser simbólico dessa confusão de valores, dessa falta de critérios e, também, de respeito. Ora, Roberto Jefferson é corrupto confesso, ele próprio tendo revelado as podridões de que fez parte, buscando, com suas denúncias espalhafatosas, transferir responsabilidades. E, no entanto, tem sido tratado – especialmente pelos setores em oposição ao governo de Lula – como um herói ou como alguém que mereça um mínimo de respeito. Como se pode, ainda, crer na palavra ou dar espaços a personagem tão comprometida?

A grave questão da decência e da honradez nas atividades públicas transformou-se apenas em bandeira político-partidária com objetivos eleitorais. Não se discutem as estruturas deterioradas e nem se propõem soluções ou grandes e sérios projetos de reorganização social. Usam-se denúncias, fatos e a própria corrupção como simples armas políticas, usáveis à medida dos interesses do momento. O escândalo do mensalão – do qual Roberto Jefferson é personagem central, também como réu, cúmplice e quadrilheiro – chegou à instância do Supremo Tribunal Federal, a máxima corte, que é, também, uma corte política. Nada mais há a fazer a não ser aguardar todo o ritual processual e os julgamentos finais.

Quando Roberto Jefferson, feito uma patética Cassandra, protesta pelo fato de o Presidente Lula não ter sido denunciado como “participante do mensalão” obtém, da imprensa, escandaloso, desonesto e mal-intencionado espaço, com evidente pretensão de tentativa de ruir, ainda outra vez, o prestígio do Presidente. Não é mais hora disso, mesmo porque nenhum órgão de imprensa digno desse nome daria crédito a um estuprador que denunciasse suspeitos de bolinações. Roberto Jefferson não merece crédito. Aqueles que lhe dão importância nada mais fazem, na verdade, do que nivelarem-se a ele próprio.

O Brasil está conseguindo reorganizar-se, há novas perspectivas e as esperanças foram retomadas. Não podemos mais suportar aves de mau agouro que piam com bicos de abutres. A falta de critérios não pode ser um critério que se respeite. Em Piracicaba, nenhum crítico tem o direito de falar de mensalão e corrupção em Brasília e ignorar sementes e raízes de “máfias de casinhas, de ambulâncias, de sanguessugas e de vampiros” aqui plantadas. Seria um desrespeito à inteligência do leitor.

Deixe uma resposta