João Chaddad pode?
Antes que muitos dos tolos – que se multiplicam também em meios jornalísticos e políticos – falem bobagem, deixo claro: sou amigo, admirador e quase irmão de João Chaddad. Cheguei, há algum tempo e como folgazã declaração de amor fraterno, a dizer que João Chaddad era meu ídolo. E foi. Mas a política o atingiu em cheio no cerne mais belo de sua alma. Ponto final.
Confesso que, nos últimos meses, andei desalentado: por que, ainda, lutar e brigar por Piracicaba? O que é esta minha terra, em que se tornou, no que a transformaram? Confesso que, de cansaço, pensei em parar, a idade e a saúde alquebrando-me em algumas forças. Mas não me alquebraram a paixão. E nem me tiraram a lucidez. Muito menos a coragem.
Ora, João Chaddad tem servido, desde os tempos de Luciano Guidotti, a quase todas as administrações de Piracicaba. Em minha opinião, ele é o homem que mais conhece as entranhas da administração no sentido de obras públicas, viárias, especialmente as de interesse de quem ou de quais, com exceção, aliás, do povo. Pois João Chaddad não pensa em povo. E isso, para mim, é terrivelmente doloroso e estranho, pois o meu padrinho de batismo, na Igreja Católica, foi Manoel Chaddad, um dos homens mais maravilhosos que Piracicaba conheceu, o árabe cantador de cururu, gente do povo, mascate que palmilhou, metro por metro, toda a zona rural do município e a urbana. E pai de João.
João Chaddad é o homem-chave na administração de Barjas Negri, escolha inteligente do alcaide. Fosse eu prefeito, chamaria João Chaddad para trabalhar comigo. E, ao ex-prefeito José Machado, sugeri convidasse João Chaddad para comandar o Ipplap, para ser responsável por obras, por trânsito, por cuidados da cidade. Com o cuidado, porém, de lembrar, a João, que o povo existe.
Minha primeira grande e amarga decepção com esse meu querido João Chaddad foi quando vi e percebi a ameaça sobre a última “santa-cruz” urbana de Piracicaba, acho que das últimas do Brasil. “Santa cruz” é aquela cruz colocada à beira de estradas para honrar memória de mortos. Havia, no Piracicamirim, a “santa cruz do Rolador”, a última, ameaçada por um condomínio. Isso foi já no longínquo tempo do Humberto de Campos. Telefonei para João Chaddad, avisando que aquele patrimônio cultural estava em perigo. Ele apenas riu ao telefone. E a santa cruz foi destruída. Para dar lugar a um outro condomínio, que poderia ser construído preservando a santa-cruz folclórica.
João Chaddad é arquiteto, projetista e criador de quantas obras quiser e puder, mesmo que se discorde de muitas delas. Mas há um senão problemático: João Chaddad, sendo parte importantíssima da administração municipal e homem-chave dela, pode, legalmente, assinar obras particulares, responder por elas? Como, moralmente, pode um arquiteto servir ao município, como membro do Poder Executivo, e servir a particulares? Fico agoniado com isso. Pois, mesmo sendo legal, não é ético. E, ao contrário do que já disse um político local, nem tudo que é legal é moral.
A Câmara Municipal, onde o Capitão Gomes volta a despontar como um vigilante da ética em política, deveria estar mais atenta. João Chaddad, esse meu amigo querido, me deixa em dificuldades éticas. Mas não posso silenciar, mesmo porque perguntar não ofende.