O religioso, o moral, o legal.

Uma simples opinião, de observador que acompanha essa história há mais de 40 anos: a Unimep não tem mais saída. Acabou-se. O que virá, a partir de agora, pode ser uma outra universidade, um conglomerado de escolas, algo melhor ou pior, mas a Unimep – como foi sonhada, desejada e querida pelos piracicabanos e por seus fundadores – essa acabou. E, em meu entender, a causa, ainda que complexa, é simples: não se consegue mais distinguir, no conflito, o legal, o religioso e o moral.

Na realidade, continua sendo uma luta pelo poder, parece que bem a gosto de grupos metodistas piracicabanos, como vem ocorrendo – do que se tem documentado – desde os anos 1950. Por isso, quando se discutem questões relacionadas a propriedades, a terrenos, a bens, os mais cautelosos ficam em silêncio. Pois, para quem conhece, a história passada não é bem essa que tem sido contada. A promiscuidade entre religioso, moral e legal nunca deu certo.

Ora, o religioso tem sua esfera que está muito além do profano, desse mundozinho cruel e interesseiro, com tantas tentações e necessidades materiais. De uma certa forma, o religioso se entende acima das regras mundanas, de onde o surgimento alucinado de falsos profetas, de delírios messiânicos, misturados a farsas, aproveitamentos e interesses. O legal impõe limites, o moral se impõe à consciência. Nem sempre o legal é moral; nem sempre o moral está na dimensão legal. Ditadores, pela ordem da tirania, criam leis que nem sempre são morais. E moralistas nem sempre, também, estão conforme a ordem legal. O religioso, vivenciando o concreto mundo real, é contaminado por esses conflitos.

Na Unimep, todas as explicações acabam confluindo para a mantenedora, a Igreja Metodista. Logo, ela seria fonte de todo o bem, responsável por todo o mal. No entanto, por ser igreja, a sua missão está voltada à vida futura, compromissos divinos assumidos em relação aos homens. A igreja é autônoma, mas mantém universidade. A universidade é autônoma, mas pertence à igreja. Por ser igreja, a instituição tem benefícios diante da lei, aprovados pela ordem moral. É o religioso em harmonia com a lei e a moral. Por ser universidade e pertencer à igreja, essa instituição tem, também, benefícios legais, aprovados pela ordem moral. O raciocínio parece perfeito, mas não é.

Ora, uma universidade pertencente a uma igreja tem privilégios em relação às frágeis e pobres instituições civis e profanas. Há benefícios por ser confessional e filantrópica. Isso é legal. Mas a lei impõe obstáculos e cria condições para beneficiar instituições filantrópicas, confessionais, de utilidade pública. Isso também é moral. Ou seja, no mundo, o religioso acaba, de alguma forma, sujeitando-se ao moral e ao legal, mesmo que o seu objetivo último seja o paraíso, o outro mundo, a salvação eterna no seio de Abrahão.

Davi Barros, prevíamos, abriu as vísceras da Unimep para se revelar as questões mundanas do privilegiado universo da confessionalidade. Elas também são feias, pois vísceras são sempre feias. Agora, surgem explicações e mais explicações tentando mostrar que alguns atos são absolutamente legais, porque aprovados pela Igreja. Ou seja, legais dentro das normas religiosas. Mas a Igreja poderia pôr-se acima das restrições impostas pela lei civil que regulamenta universidades e faculdades filantrópicas?

Houve um suicídio institucional na Unimep. Entre o religioso, o legal e o moral, chegou-se ao fim de uma história. O que virá, a partir de agora, é outra coisa.

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