Quem ganha o quê?

Uma das obras clássicas da literatura política tem o sugestivo e instigante título: “Política: quem ganha o que, quando, como”, de Harold Lasswell. Sem fazer concessões, o autor confirma aquela que é, na realidade, a síntese da ciência política: o “estudo da influência e dos que são influentes”. E isso significa que o povo, como coletivo, é tratado como massa.

Até nas pequenas cidades interioranas, o cotidiano da política revela esse jogo de influências e de interesses. E isso é mais fácil de observar diante das chamadas “obras concretas”, visíveis, expostas, geralmente contratadas a empreiteiras. Com um mínimo de lucidez, ao anúncio de qualquer obra, o cidadão pode pensar e buscar a resposta: “Quem está ganhando o quê, quando, como?” Perceber-se-á, então, que nem sempre é a comunidade, como um todo, que ganha, que é beneficiada. Há o jogo da influência e dos que são influentes. Ganha, pois, quem tem influência, quem a exerce e, portanto, os influentes. E, por influência, entendam-se todas as formas dela: ideológica, econômica e política.

Um dos exemplos de influência e de influentes pôde ser visto, por exemplo, quando a anterior administração elegeu o “jardim da Boyes” como uma das obras prioritárias para a recuperação de praças. Por quê aquele local, afastado, pouco ou quase nada freqüentado? Ou seja: quem ganha o quê, quando, como? A resposta veio rápida: logo após a reconstrução do jardim, inaugurou-se uma boate com pretensão a ser semelhante às de “Paris, Nova York, Roma.” Mas ela fechou.

Por que a Ponte do Shopping e não, por exemplo, do Morato? Entendeu-se rapidamente quando a obra passou a ser conhecida como “Ponte dos Coreanos”, ponte para atender à demanda da indústria coreana instalada em Artêmis (insistentemente paroxítona), com um previsto tráfego de 150 caminhões diários. E, agora, por que tanta movimentação em torno do Parque 1º de Maio, da rotatória 1º de Maio, se há outros pontos de estrangulamento mais urgentes? A resposta chegou: a instalação das Faculdades Anhanguera.

Uma leitura rápida no livro de Lasswell ajudaria a entender melhor a marquetagem em Piracicaba. Em cada obra anunciada e proclamada, mesmo a de um mictório público, pode-se perguntar: quem ganha o quê, quando, como? Nem sempre as respostas são difíceis.

 

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