Cara de pau

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“O experimentado Geraldo Alckmin (PSDB), em seu quarto mandato à frente do Estado de São Paulo, parece ter aprendido só nesta sexta-feira (4) algo básico a respeito de governos democráticos: nem sempre a população aceitará políticas públicas impostas de cima para baixo, sem o devido debate e um mínimo de transparência”. (Editorial Folha 05.12.15). Teve que revogar o projeto de reestruturação escolar no Estado de SP.

Alunos ocuparam escolas, foram às ruas, encararam a polícia, não arredaram pé. Os protestos de estudantes, pais, professores, Ministério Público, Defensoria e todo mundo que tem bom senso puseram pra baixo a popularidade do tucano. Por isso recuou, não por estar preocupado com alunos ou com o Ensino. O sonho dele é (era, espero) ser presidente. “Se havia um projeto presidencial ‘Alckmin 2018’, ele acabou na tarde desta quinta-feira, quando um policial militar de São Paulo agrediu, com o punho cerrado, um estudante secundarista, (…) que protestava pelo direito de ter uma educação pública de qualidade; se o paranaense Beto Richa era o governador tucano que batia em professores, Alckmin conseguiu ir além: é o governador que bate em alunos; (…) nem o recuo na ‘reorganização educacional’, nem um improvável pedido de desculpas poderão transformar Alckmin num candidato viável”. (SP 247 04.12.15).

Com a cara de pau que lhe é peculiar, esse senhor vem a público dizer que ouviu o clamor dos jovens. Só agora? Quis tirar proveito da própria derrota. Por que não discutiu a proposta com escolas, pais, sociedade enfim? Depois taxam pais de omissos quanto à escola dos filhos. Participar que jeito se para esse governo família serve para nada? Quem fica muito tempo no poder vira profissional, frio e calculista; perde a sensibilidade. Na verdade, o governador viu que o movimento fugia do controle. Deixou a polícia entrar em cena com a truculência de sempre. Ora, quem disse que esses andróides sem cérebro, preparados para “morrer pela pátria e viver sem razão”, treinados para matar pobres, sabem lidar com gente franzina, jovens sonhadores e valentes, armados só de coragem e sonhos? Quem deixa polícia bater em crianças nem sentimentos de pai tem, quanto menos de estadista.

Décadas na política não impediram Geraldo de cometer um erro tosco. É o que acontece com gente cujo desejo mais profundo é o poder pelo poder, pela vaidade e não o desejo de servir, especialmente aos mais sofridos. Ninguém consegue enganar todo mundo durante todo o tempo. A máscara caiu. Esse governo não tem contato com a vida. O mundo mudou o Brasil também; jovens de hoje não são os mesmos de ontem. Só Geraldo e sua trupe não enxergam a grande riqueza que trazem. Querem sentir-se incluídos, participantes, protagonistas. Apesar bagaçada, curtem a própria escola por ser o espaço que lhes resta. Comportaram-se com categoria durante as ocupações. Deram um show na velharada que sufoca o ensino público. Como genuíno tucano, em vez de tê-los como parceiros, esse governo míope manda policia. E a polícia vai!

O tucano poderia brilhar como estadista, mas não tem filling. “O governador Geraldo Alckmin estava tão acostumado a nadar de braçada no conservadorismo do eleitorado paulista que achava que tudo podia”. (Hélio Schwartsman. Folha 05.12.15). Pois o dirigente do estado mais poderoso do país perdeu para uma molecada que, diferente dele, faz valer o respeito, o certo, o justo.  Isso engrandece o Brasil.

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