À minha maneira

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Hoje é o dia da nova “Marcha com Deus, pela Família e pela Liberdade” e eu, como testemunha ocular da História, vou colocar o meu pitaco. Em 1962, fui trabalhar em São Paulo, no Banespa, onde encontrei um mundo novo para mim, em plena mocidade. Trabalhava na Secretaria Geral do Banco, o que me proporcionou contato com pessoas quase idosas, em plena efervescência de seus ideais. Alguns colegas já eram universitários, outros chegados ao Sindicato dos Bancários e outros comunistas. Nessa época eu já conhecia alguns dos livros da Editora Civilização Brasileira e da Brasiliense, que lançavam os principais escritores de esquerda e quem mais me chamava a atenção era o Carlos Heitor Cony. Conheci um senhor, colega que trabalhava na Carteira Agrícola, Milton de Toledo Lara, e era com ele que eu trocava as minhas idéias. O Lara era comunista e já havia, inclusive viajado para a Rússia. Trocava também livros com ele. Passei a frequentar o Sindicato e, em certas ocasiões, os policiais já jogavam bombas de gás lacrimogêneo lá dentro. Atenção: a ocasião era anterior a 31 de março.

Tenho de confessar que, nessa época, como hoje, o país também estava dominado pela corrupção. Então, anunciou-se a realização de uma marcha ,em sinal de protesto. No dia, todos os bancários foram dispensados do serviço para dela participar. Não vou negar que estive no meio daquela multidão que saiu da Praça da Sé, rumo à Praça da República. Vi gente muito chic no comando, bem na frente Adhemar de Barros e a esposa Leonor, de braços dados, todos muito bem vestidos, coisa normal, na época em que o bancário era chamado de mendigo engravatado. Quando a marcha passou pela frente da Igreja de Santo Antonio, na Praça do Patriarca, ela parou, com pedidos para que os padres batessem os sinos. Fizeram pouco barulho, acho que eram sinos sábios que já sabiam o que nos esperava. Quando chegamos na Praça da República, eu não estava gostando de ficar espremido no meio daquele multidão, dei uma voltinha até a Avenida São João e entrei no Cine Metro. Curiosamente, era um filme nacional , cujo nome não me lembro, inspirado em um movimento subversivo, não sei dirigido por quem, que visava a agitar o povo, através de mensagens subliminares, transmitidas diretamente da imagem do Cristo Redentor.

A marcha teve, verdadeiramente, grande apoio popular e dos órgãos de imprensa. Dizem que até o Lula participou. Contaram-me que, também aqui em Piracicaba, houve a nossa marchinha e todos os dirigentes sindicais também participaram, inclusive os dos bancários, da época. Mas, durou pouco e começaram as trocas de gentilezas entre os revolucionários e seus antagonistas. Eu, que frequentava a noite paulistana, já estava ficando apavorado com as bombas que destruíam vitrinas de lojas, em quarteirões, um deles defronte ao Cine Marrocos, um dos que mais frequentava e que ficava ao lado de um quartel do segundo exército, com suas barricadas.

Em 1965, fiquei doente e acabei transferido para Piracicaba. Comecei a frequentar o Jornal de Piracicaba, a Folha de Piracicaba e acabei ,em O Diário, onde colocamos nossas trincheiras e podíamos jogar as nossas pimentas contra o intitulado movimento revolucionário, com o Cecílio Elias Neto no comando e se danando todo. Mas não éramos idiotas. Nossas armas eram as nossas máquinas de escrever. Não falo por ouvir contar. Meninos, eu vi e participei, à minha maneira!

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