Mudar o Brasil

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Quer mudar o Brasil? O primeiro e único passo é olhar-se no espelho. Você está contente com o que vê? Nada precisa mudar? Não se trata de aparência, família, filhos, emprego, sucesso, insucesso, dinheiro, etc. Falo de se estar bem; dono de si, cônscio das próprias virtudes e limites e dos defeitos que nos fizeram ter, além dos que fomos pegando pelo caminho para poder ‘sobreviver’ e que precisam ser encarados. Digo sobre ter consciência de onde viemos, para onde vamos e da necessidade que temos uns dos outros. Falo de dar ouvidos e ser fiel aos anseios mais profundos, e de pegar o destino nas mãos retomando a própria originalidade, tão desprezada pela ideologia vigente, que nos quer padronizados e apreciadores de valores que não se sustentam.

Dado este passo, o Brasil já começa a melhorar porque pessoa que se respeita e tem consciência dos próprios limites compreende seu semelhante. Mesmo porque não no Brasil, mas em Piracicaba que moramos, e é ela que devemos melhorar. Não querer para o outro o que não queremos para nós, e lutar por isso, é coisa de gente equilibrada e sábia. Ou se oferece condições de vida digna a todos ou jamais teremos paz.

Sabedoria é tratar e compreender o outro como gastaríamos de ser tratados e compreendidos. Na realidade, o que melhora a vida de uma nação são as relações. Quanto mais nos relacionamos melhor nos conhecemos e mais nos transformamos. Se não nos tolerarmos, mesmo com maior PIB do mundo, viveremos um inferno. Numa sociedade fraterna o custo social é baixo porque solidariedade – basta ver as catástrofes – é mais eficaz que projetos grandiosos, além disso, povo solidário é saudável, seguro e feliz. Povo egoísta custa caro. Não seria por isso que temos uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo?

Como exemplo, vejamos o problema da dengue. Muito dinheiro público já foi para o ralo porque se o cidadão está nem aí consigo vai estar com seu próximo e com o ambiente? Cara quer Brasil melhor, mas não cuida nem do quintal da própria casa. Grita por saúde, porém leva vida estressada, trabalha direto porque gasta demais ou porque precisa compensar sua ausência em casa, não abre mão de excessos e até fica bravo quando amigos e familiares o admoestam. Depois do infarto, da depressão ou do AVC quer que o sistema lhe devolva de imediato a saúde que perdeu por se tratar tão mal. Tem gente que é seu próprio carrasco. Polícia é chamada para mediar brigas de famílias que nunca deveriam ter se formado já que o amor não se dá com irresponsáveis. Imaginem o estrago que causa uma família sem respeito mútuo, sem regra e sem afeto. Com 30 anos de Serviço Social posso afirmar que atrás de todo usuário de drogas ou marginal há uma família doente, embora nem todos os filhos sigam o mesmo caminho.

Nesse sentido, grosso modo falando, as drogas aparecem como lenitivo para corações machucados e sentimentos agredidos. Nada que um franco e mesmo dolorido diálogo não resolva. Mas o orgulho quer ferir a si para se ter como vítima agredindo assim ‘causadores’ da tragédia. Esse jogo irresponsável acaba por sustentar uma das atividades mais nefastas que a sociedade produziu: o tráfico de drogas, cujo combate vem consumindo vidas e rios de dinheiro, que poderiam ser utilizados em casas populares, centros esportivos e recreativos; escolas, capacitação profissional, etc. Pior, o problema só cresce e as cadeias estão cheias de jovens por causa disso.

“(…) Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO, hoje”. (João Ubaldo Ribeiro).

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