TEMPUS FUGIT, CARPE DIEM!

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Só pode ser artigo de velho. E de velho padre. Começa com um título em latim. Latinório em pleno século vinte e um. Não pode! Se fosse pelo menos em ingres, vá lá. Ou em alemão. Ou esperanto (existe ainda?!)

Mas, deixa pra lá. Vamos desculpá-lo: no dia 4 de setembro ele contabilizou 77 anos. Deixa ele gastar o seu arquivo morto: “Tempus fugit”: o tempo passa, o tempo foge. Mas, será? O tempo é apenas uma convenção social. Um calendário. Um digital. Se me perguntarem o que é fazer 77 anos… Não é nada de diferente dos 60, 40, 80. Os índios não celebram aniversário. Para eles, a divisão do tempo não tem sentido. O que sinaliza a nossa progressão da vida e sua decadência (velhice) é a gradativa deteorização do corpo, da mente, do ânimo. Daí que se o tempo aparentemente passa, siga a filosofia: “Carpe diem”: aproveite o mais que puder dele. Curta, aproveite, até o ultimo suspiro.

Aliás, a verdade sobre os velhos, quem melhor a definiu foi Marcel Proust: “Um velho é apenas um adolescente que viveu demais. No corpo de um velho continua vivo um adolescente. Ou, se preferir a Simone de Beauvoir, recriminando o preconceito da sociedade contra os idosos: “Se os velhos apresentam os mesmos desejos, os mesmos sentimentos, as mesmas exigências dos jovens, o mundo olhará para eles com repulsa. De Romeu e Julieta, o romance mais que natural. É o que se espera dos jovens. Nos velhos, o amor e o ciúme, o erotismo parecem absurdos, a sexualidade é repulsiva, a tesão ridícula.

Há uma coisa que não se perdoa nos velhos: que eles possam amar com o mesmo amor dos moços. Aos velhos está reservado outro tipo de amor, o amor pelos netos, sorrindo sempre pacientemente, olhar resignado, passeios lentos pela praça com o cachorro, horas jogando paciência, ou buraco, ou bingo, cochilando em meio a conversas, esperando pela morte. É assim que a sociedade quer o velho. Comportado, distante, assexuado, virginal.

Mas quando o velho ressuscita, diz Rubem Alves, e no seu corpo surgem de novo as potências adormecidas do amor… Oh! Os filhos se horrorizam! Ah! Ficou caduco… Ah! É golpe do baú! Ah! Quem gosta de velho é reumatismo.

Sempre me lembro de um casamento de idosos que abençoei-ele com 78 anos, ela com 72. Fizeram questão de celebrar com convidados, igreja enfeitada, tapete vermelho, de terno e véu e grinalda, e a felicidade estampada no corpo inteiro. Quando vieram fazer os papéis, os netos pediram desculpas pelo ridículo. E no entanto, os dois estavam felizes como noivos jovens. Queriam que a cerimônia terminasse logo para curtir a lua de mel. Estão vivos e felizes até hoje, com quase 90 anos.

A psicanálise acredita que no inconsciente não há tempo… Somos eternamente jovens. Se me perguntarem como me sinto aos 77 anos… Não me sinto com tantos anos. O amor não é exclusividade de Romeu e Julieta. O amor e a paixão não tem data de vencimento. O amor na velhice causa espanto, pois nos revela que o coração não envelhece jamais. Pode até morrer, mas morre jovem.

Por isso meu caro, minha cara se você percebe que o tempo fugit (o tempo foge) … “Carpe diem”. Solte a franga, saia do armário, vai pra balada, vai passear. Suga até o ultimo sorvo o que lhe resta da vida. Inclusive você padre, você freira septuagenário, octogenário deixe-se possuir pela assombração de Jorge Luis Borges: “Se eu pudesse viver novamente a vida, trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão certinho (tão celibatário, tão submisso à disciplina eclesiástica).

Se o tempo “fugit” … “carpe diem”! Aproveite! Aleluia!

Pe. Otto Dana – Diocese de Piracicaba

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