O triste fim de João na Quaresma
Lima Barreto haverá de perdoar-me. Foi-me, porém, irresistível não plagiar parte do título de seu imenso livro – um dos pioneiros do pré-modernismo do Brasil – “O triste fim de Policarpo Quaresma”. E o pedido de perdão é ainda mais intenso por saber, eu, que João Manoel nada tem a ver com a figura dramática de Policarpo. O que me inspirou foi o triste fim, não a história, por óbvio.
De qualquer maneira, porém, João Manoel fez-se, de si próprio, um personagem patético. E gravemente decepcionante. Pois ele – por suas origens mais do que humildes, por sua posição absolutamente subalterna na Unimep – poderia ter sido um exemplo de como, no Brasil, a democracia permite a ascensão dos humildes. Aconteceu com Lula, o maior dos exemplos. Com muita luta, o retirante nordestino chegou à liderança sindical, política e à presidência da República. João Manoel – retirante mineiro – venceu preconceitos, a pobreza, a condição humilde e se impôs aos funcionários da Unimep, tornando-se, também, líder sindical. Participou de lutas, naquela universidade – e com o apoio precioso do então reitor Elias Boaventura – em busca do retorno à democracia. Ingressou na política partidária incensado por uma expectativa de idealismo e de solidariedade.
Elegeu-se, não parou mais de eleger-se. E, quanto mais se elegia, mais foi perdendo o respeito às suas origens. Habilmente, chegou à presidência da Câmara Municipal, mostrando-se, assim, superior aos “nobres edis” que o elegeram. Pois – ora, bolas – supõe-se que qualquer vereador, elegendo o presidente da Casa, reconheça, nele, mais qualidades do que as suas próprias. E gostou de ser presidente, confirmando Joãsinho Trinta: ”Intelectual é que gosta de miséria; pobre gosta de luxo.”
O retirante João Manoel – nesses mistérios que apenas acontecem na política – conseguiu tornar-se um homem abastado, de posses. Como simples vereador, é óbvio.
Lord Acton, ministro inglês, historiador, deixou-nos- ainda no século 19 – a observação fulminante: ”O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente” Longe de mim, imaginar João Manoel um político corrupto. Ele é astuto. No entanto, corrompeu seus ideais ou deixou cair máscaras que usou no início da jornada. Para João Manoel, eu modificaria a célebre frase de Lord Acton, trocando os verbos: “O poder cega; o poder absoluto cega absolutamente”. João Manoel continua astuto. Mas ficou cego. E não consegue enxergar seu próprio fim, o “triste fim de João Manoel na Quaresma”.
A Justiça desmoralizou por completo a estúpida e tirânica atitude, pretensiosa e arbitrária decisão de João Manoel – fazendo-se ditador, com plenos poderes – ao, ele próprio, determinar quem pode ou não ser escolhido assessor de outro companheiro. Como um tirano cego, determinou o afastamento de Oswaldo Storel, assessor especial escolhido, sabiamente, pelo vereador Paulo Camolesi. Ora, João Manoel é produto da ditadura, mesmo brincando de ser opositor. E o uso do cachimbo entorta a boca. Por outro lado, os árabes – minha origem – ensinam: “Se quiser conhecer um homem, dê-lhe um chicote.”
João Manoel revelou-se ao ter o chicote da presidência da Câmara nas mãos. E mostrou o seu lado patético, triste, lamentável. O retirante mineiro jogou no lixo uma história que poderia ser exemplar. Não foi. E, significativamente, seu triste fim aconteceu na Quaresma. Bom dia.
Parabéns pelo texto!
Texto incrível, Cecílio! Feliz Páscoa a todos!
Você foi feliz no texto ,
Parabéns pelo excelente texto! e quanto o protagonista no mesmo; este deveria arcar com os juros e correções, dos 8 meses de salários do Storel, e que os cofres públicos agora terá de ressarcir, em detrimento de quem usou o chicote.
Cecilio, sempre Cecílio. Parabéns mais uma vez.
Um pouco de Abraham Lincoln na vida de JOÃO:
“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser pôr à prova o seu caráter, dê-lhe poder.”
“Pode-se enganar todas as pessoas por algum tempo e algumas pessoas durante todo o tempo. Mas não se pode enganar todo o mundo por todo o tempo.”
“Os que negam liberdade aos outros não merecem liberdade”
“Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”.
E por fim, uma lição:
“O voto é mais forte que a bala.”
Parabéns, Cecílio
Belo texto ! João o “OME” errado no lugar errado”.Como diz a letra de 1 das musicas de CAYMI isso é 1 pouco de BRASIL aia……
O GRANDE Prof. Elias Boaventura ajudou tanto o João, que o agradecimento dele foi em forma de traição nas eleições de 1996. Deve se lembrar que depois disso surgiu o PDT Autêntico, do qual eu tive a honra de pertencer naquele momento. Desde aquela época, quando o João pegou a presidência do PDT aqui em Piracicaba, já sentíamos na pele que ele com o “chicote”, não iria dar certo.
Excelente artigo, como sempre diga-se de passagem.
Cecílio no seu melhor! E esse outro “senhor”, cujo nome não se pode pronunciar (sic) e seus ares de Voldemort, terá o mesmo fim: o julgamento das urnas…Nunca se perde pela espera!
perfeito texto Prezado Cecílio!! eu ando cansado desta “deste modus operanti provinciano (desculpe o trocadilho) desta cidade!!