“A praça é do povo como o céu é do condor”

7 de Setembro nas ruasPor que  políticos tanto medo têm das manifestações de rua? Por que temem, eles, a voz do povo? Por que se refugiam, acovardados, em seus castelos que deveriam ser Casas do Povo? Por que vereadores, em Piracicaba, tremem diante de protestos legítimos como os do “Reaja Piracicaba”. Por que, enfim, o povo – já desprezando seus representantes – escolheu as ruas?

Castro Alves nos deu a resposta, ainda no longínquo 1866:

[quote]“A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor.
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor![/quote]

A classe política – incluindo, também, a de Piracicaba – não se deu conta, ainda, que, nas manifestações públicas, águias já foram criadas e estão voando, observando, vigiando, fiscalizando, imperiais como imperial é o próprio povo. Lamentavelmente, entre elas, estão urubus predadores, que se ocultam, covardemente, em máscaras, promovendo violências, depredações, barbáries. Mas não podemos confundir vândalos, que se dizem anarquistas, com as marchas legítimas, pacíficas mas enérgicas que espocam por todo o país. E, também, em Piracicaba.

Os vândalos têm que ser contidos e repudiados. No entanto, é a própria classe política – com seus cúmplices nas comunicações sociais – que procura causar confusões, misturando alhos com bugalhos. Pretende-se desmoralizar o voo das nossas águias, do povo dominando as praças como o condor no céu. Encastelados em seus refúgios privilegiados, políticos brasileiros – incluindo os de Piracicaba – agem como se fossem novas Marias Antonietas, surdos aos gritos de revolta e de indignação, estupidamente confortáveis em sua falsa crença de impunidades. É como se dissessem, repetindo suicídios históricos: “O povo não tem pão? Que coma brioches”.

O Brasil não sabe – e Piracicaba também – o que nos espera nas prometidas manifestações do “7 de Setembro”. Permitam-nos, os céus, que as águias – nas praças, nas ruas, diante dos prédios onde se esconde um poder apodrecido – expulsem os urubus do aventureirismo e da irresponsabilidade, os covardes mascarados. E que lição teria a classe política brasileira – e, também, a de Piracicaba – se os protestos fossem pacíficos, como pacíficas têm sido outras movimentações, como a da Jornada da Juventude no Rio de Janeiro! Foi com a movimentação popular pacífica que Gandhi libertou a Índia. Foi com um discurso pacífico, mas forte e ecoante pelo mundo, que Martim Luther King venceu a crueldade da desqualificação dos negros. E foi com paciência, estoicismo, fortaleza que, da prisão, Nelson Mandela imantou seu povo para a luta contra o cruel e irracional “aparthaid”.

O mundo se transformou num barril de pólvora prestes a explodir. Já estamos às vésperas de uma sociedade “pós-capitalista”, com a economia de mercado provando de seu próprio veneno. Isso não significará a morte do capitalismo, mas a sua renovação, talvez aquele sonhado capitalismo com face humana. Mas  políticos brasileiros – e em Piracicaba também – não têm um mínimo de sensibilidade e de sabedoria para entender que já entramos num mundo novo, ainda confuso, indefinido, mas novo. O povo se libertou do conluio do poder absoluto, formado pela aliança político-empresarial-comunicação. E o Presidente Eisenhwoer – herói da II Guerra, em nome das liberdades democráticas – fez uma denúncia, em seus últimos dias na Casa Branca, que se tornou profética: a aliança empresarial-industrial para o domínio do mundo. Aconteceu. Mas começa a esgotar-se.

Neste “7 de Setembro”, muito pode acontecer no Brasil. E, também, em Piracicaba. O grito da  rebelião contra Portugal  – “Independência ou Morte” – poderá ser repetido sob outra aspiração, sob outra libertação, sob outra forma: “Fim da corrupção e da política sórdida ou Morte”. E não seria, então, o grito de uma só pessoa, de um só líder, mas o “ brado heróico e retumbante” do povo brasileiro. E de Piracicaba também Deus permita que os covardes mascarados não maculem o que vier a acontecer de bom, de legítimo e de poderoso. E que políticos – de Piracicaba, também – tremam, ainda mais, de medo e de pavor. E se envergonhem. Bom dia.

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