Guerra religiosa, sim

O que a atual cúpula da Igreja Metodista está fazendo com a Unimep acabará, inevitavelmente, sendo objeto de apreciação judicial. E, infelizmente, as lideranças políticas de Piracicaba não estão interessadas em manter valores piracicabanos, patrimônios culturais de nossa terra, construídos ao longo de muitas gerações. A Unimep e o Colégio Piracicabano – por mais a ganância da nova direção metodista tente sonegar ou matar – são patrimônios nossos, aqui plantados com o idealismo amorável dos primeiros metodistas, sim, mas com o apoio material, político, social e filantrópico de líderes piracicabanos, entre os quais os irmãos Moraes Barros, Prudente e Manoel.

Davi Barros, sendo porta voz dessa nova igreja de mercado, ultrapassou os limites da ética e do respeito, incluindo os que se devem à verdade histórica. Tornou-se um líder messiânico de um grupo de pentecostalistas indiferentes a tudo o que não diga respeito aos interesses desse novo metodismo, inclusive matérias, financeiros e de benefícios, que incluem, obviamente, cargos, viagens, salários. Menosprezando a dimensão ética, Davi Barros não hesita em mentir, tendo, talvez, mentido tanto a si mesmo que suas mentiras até podem soar-lhe como verdades. Mas se há histórias que se escrevem com versões, a verdadeira história se escreve com fatos e com documentos.

A Unimep está mergulhada, sim, numa guerra ideológica desde os seus primórdios. E em diversos níveis: guerra ideológica em relação à orientação religiosa, guerra religiosa quanto à responsabilidade educacional da igreja, guerra religiosa entre facções metodistas. Todas as crises anteriores surgiram desses conflitos ideológicos e Davi Barros, embora tentando inverter o rumo da história, sabe disso, pois foi parte dessa história pelo menos como coadjuvante de segunda classe.

Não posso deixar de insistir: conheço essa história, estou entre os que plantaram a semente da Unimep, foi o primeiro presidente do Centro Acadêmico da ECA, seu aluno e seu professor. E tenho orgulho de ter escrito a história desses primórdios. Mas, mais do que isso, fui, também, testemunha privilegiada, ocular de acontecimentos determinantes entre os quais a ordem do governo militar para que a Unimep fosse boicotada enquanto não se mudasse a orientação ideológica dada por Elias Boaventura e seus companheiros de reitoria e de igreja.

Pelos mistérios da vida, eu vendera O Diário e me associara, em São Paulo, a um grupo de advogados que fazia atendimentos políticos e fornecia orientações naqueles anos ainda duros que precederam a abertura, iniciada com o general Ernesto

Geisel. Através de vínculos com o governador Paulo Egídio, tornei-me próximo de Delfim Neto, que retornava de seu exílio branco em Paris, tornando-se, no governo Geisel, o todo poderoso ministro brasileiro.

Certa tarde, em Brasília, o ministro Delfim Neto, em sua sala, me chamou e me transmitiu suas preocupações diante de ordens que o governo militar baixara: congelar qualquer pedido da Unimep, ainda que legítimos e legais fossem, se Elias Boaventura continuasse seu reitor e a universidade não redefinisse a sua linha ideológica que, na realidade, não era outra senão a defesa intransigente das liberdades democráticas, isso que Davi Barros conhece mais de ouvir falar do que por exercício de vida.

Elias Boaventura e seus companheiros não cederam. Os golpistas metodistas derrubaram-no do cargo, mas Elias retornou como que carregado por alunos e por professores, mostrando que, para ser verdadeira, a universidade não poderia submeter-se aos grilhões, aos humores ou aos interesses de grupos de igreja. Davi Barros pertence a esses grupos e, negando a guerra ideológica, ainda outra vez mente, como se fosse um cacoete, compulsão ou doença. E os que lutaram, antes, pela autonomia da universidade, agora silenciosos, tornam-se cúmplices de grandes farsas e da pilhagem que os “novos metodistas” fazem a valores que pertencem também a Piracicaba.

Um Promotor de Justiça que tenha pelo menos um de seus olhos abertos haveria de averiguar o que acontece de ilegalidade, de irregularidades e de farsas nessa pilhagem moral promovida por Davi Barros e seus sectários. A guerra é ideológica, sim, mas com profundas repercussões patrimoniais. Arrisco um palpite: isso haverá, ainda, de terminar em barricada. Pois, ao contrário do que muitos pensam, a história se repete, sim. E nem sempre como farsa. Bom dia.

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