Quem tira férias quando o circo pega fogo?

Foi sério e grave, realmente, o que aconteceu com a Igreja Metodista, ainda que em suas questões internas – e de ordem religiosa – valha a máxima popular: “Sapo de fora não chia”. Isso significa, pois, que desentendimentos filosóficos e religiosos entre metodistas devem ser tidos como questões “interna corporis”, que apenas a eles interessam e que, como tal, devem e precisam ser respeitados.

Ocorre, no entanto, que, em Piracicaba, a Igreja Metodista é, também, um precioso patrimônio cultural e educacional, com sólidas raízes fincadas na história de um piracicabanismo pioneiro e modelar. O Colégio Piracicabano e a Unimep são instituições metodistas que não se restringem apenas ao religioso ou ao ideológico, mas que se tornaram parte de nossa história, de nossa cultura e, portanto, um patrimônio cívico. Piracicaba, desde a chegada dos primeiros missionários metodistas, os acolheu muito mais como forjadores também de cultura e de educação do que outros e novos evangelizadores. Quando Martha Watts recebeu o entusiástico apoio da família Moraes Barros, de Prudente e de Manoel especialmente, Piracicaba manifestava-se em favor de um universalismo cultural e educacional, não em apoio a seitas ou a definições religiosas. Os filhos de Prudente de Moraes, estando entre os primeiros matriculados na escola de Martha Watts, são o grave significado do respeito e da confiança da comunidade piracicabana à proposta educacional metodista. A educação foi a semente plantada.

O Colégio Piracicabano e a Universidade Metodista de Piracicaba não podem ser considerados apenas e simplesmente como um patrimônio físico da Igreja Metodista -especialmente desse novo metodismo radicalizante – pelo fato verdadeiro e honesto de serem instituições alicerçadas no que Piracicaba teve de mais sério, lúcido e altruístico nestes quase 150 anos de vida. Apesar de nossos políticos e homens públicos insistirem em sua omissão odiosa diante da história, é o nome de Piracicaba que está nas duas instituições educacionais metodistas, na simbiose orgulhosa que permitiu a sólida aliança entre Piracicaba e Igreja Metodista. E o problema assume proporções também históricas e também graves: se a Igreja Metodista se afastar de Piracicaba, menosprezando a cidade, por quê manter o nome de Piracicaba em suas instituições? Ou o inverso: se esse novo metodismo desrespeita Piracicaba, é de justiça que Piracicaba exija desvincular seu nome de uma igreja que se revela preconceituosa, na alucinação de fanáticos.

A medida do desrespeito para com tudo e com todos – ou gota d´água em relação ao suportável e ao tolerável – foi dada, ainda outra vez, pelo sr. Davi Ferreira Barros, ironicamente, piracicabano e antigo pamonheiro. Com a gravíssima crise na Unimep, com salários atrasados de professores, sem o pagamento do 13º salário e estando a Igreja Mantenedora sendo derrotada na Justiça, o sr. Davi Ferreira Barros simplesmente sai de férias, como se confirmasse que a alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo. A Unimep, o IEP, a Igreja Metodista estão pegando fogo. E Davi Barros sai de férias. É palhaçada e é, acima de tudo, confirmação de um desrespeito que Piracicaba não merece.

A questão é simples, mas dramática: Davi Barros e o Conselho Diretor do IEP são a Igreja Metodista? Se afirmativa a resposta, Piracicaba não precisa dessa caricatura. Martha Watts não plantou uma igreja ou escolas de mercado em nossa terra.

 

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