Histeria de aiatolá

AiatoláHisteria é palavra originária do grego hystéra, que se refere a útero. Logo, supõe-se seja, no mínimo, um desconforto que atinge mulheres. No entanto, a histeria, como doença nervosa, passou a ser designativo tanto para homens como mulheres acometidos de manifestações exageradas causadas por perturbações emocionais ou afetivas. Não há quem não conheça alguém histérico. Tais pessoas perdem o domínio de si mesmas, parecem enlouquecidas, como que despidas de mínimas sustentações racionais.

Na Idade Média, segundo estudos de muitos especialistas, mulheres, condenadas à fogueira por bruxarias, teriam sido, na verdade, mulheres histéricas, da mesma forma como alguns místicos, com suas visões do sobrenatural, teriam vivido momentos intensos de histeria. O histérico quase não sabe o que está fazendo e isso pode ocorrer num escritório, num jogo de futebol, na política, no Congresso, no próprio Palácio do Planalto. Fernando Collor, por exemplo, mostrou ataques histéricos inconfundíveis no pouco tempo de seu governo. E quem viu o então senador Arthur Virgílio com seus delírios passionais, berros e achaques, não teve senão como concluir tratar-se de um histérico.

Paixões humanas podem levar a graves situações e crises de histeria. Como, também, algumas abstinências. No campo da religião, a literatura é ampla em revelar casos dramáticos e até mesmo trágicos de histeria que pode conduzir a processos contagiosos, alcançando o coletivo. São neuroses que, no entanto, podem levar à loucura e, também, a terríveis conseqüências para a própria sociedade. Nações inteiras podem ser subjugadas, anestesiadas, envenenadas por processos histéricos religiosos, como tem acontecido, por exemplo, com os aiatolás. Estes deixam-se dominar por um fogo interior alucinatório, confundindo o humano com o divino, homens que assumem a imagem de algum deus como se fosse a sua própria. A humanidade tem visto, por exemplo, o que aconteceu ao Irã, a partir de seus aiatolás.

Na verdade, todas as religiões têm homens e mulheres que assumem a máscara de aiatolás, julgando-se seres superiores ou predestinados a uma grande missão na terra onde, por incrível pareça, a figura e a personagem principais são a do diabo. Não fosse o diabo, não fosse o inferno, aiatolás não seriam ouvidos. Religiões há, no entanto – especialmente as abraâmicas e monoteístas – que precisam do inferno para promover o céu, que necessitam do demônio para anunciar Deus. No fundo, é um grande negócio que tem como principal característica o fato de se vender algo que não tem comprovação. Vende-se o céu sem que o cliente tome posse, pois isso é promessa para após a morte. Não há contrato, não há sequer nota promissória para cobrar o vendedor.

Nos últimos dias, o Brasil está tomando conhecimento de um aiatolá cristão que, inflamado de fé e de ódio, destila seu veneno, inocula sua peçonha em nome de sua igreja, a católica, e de Jesus Cristo. Mais do que um bispo, em Guarulhos, estamos diante de um aiatolá raivoso, furibundo, vociferante, babante de rancor, transtornado por uma histeria claramente freudiana. O bispo de Guarulhos, atacado pela febre dos aiatolás, assemelha-se a um desvairado prestes a cometer desatinos, numa fúria verdadeiramente uterina que – quem sabe? – pode ser de uma visceral carência afetiva. O aiatolá de Guarulhos, desvairado, não investe contra Dilma Roussef como candidata a Presidente, nem está defendendo o dogmatismo do aborto – mas fica cada vez mais claro que o bispo está investindo contra uma mulher. É a mulher que o incomoda, podendo ser Dilma ou outra, a mulher-diabo, a mulher-amiga-da-serpente, a mulher que é fonte de tentações e de pecado.

Os aiatolás têm problemas que se podem detectar a partir de sua própria aparência, pois o corpo revela: ora são gordos e balofos; ora pálidos, esverdeados. A fúria, no entanto, é a mesma. Vêem o diabo solto pelo mundo e, ao falarem de Deus, esquecem-se da caridade. Destilam ódios, ranços e rancores e, portanto, não podem semear amor. Seus fiéis seguem-nos pelo medo, pelo terror, dominados por lendas, ideologias, pânicos apocalípticos. O aiatolá de Guarulhos é uma triste figura, mas perigosa e desleal, pois usa o púlpito – que lhe dá privilégios de, pelo menos, não pagar impostos – para tentar intervir na vida pública republicana, secular e laica. Devia ser punido pela lei civil, mas, na realidade, ele não tem importância alguma, pois são poucos os fiéis atacados de cegueira espiritual. Esse bispo compromete muito mais a Igreja Católica, sendo dissonante de tantos bispos e padres lúcidos e equilibrados, que se vê obrigada a passar por um ridículo intenso e por uma vergonha maior ainda.

Talvez, um bom carinho, uma boa balada, ou uma internação com tranquilizantes ajudasse a resolver esse episódio de circo mambembe. Bom dia.

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