Maioridade de adolescentes

Uma pergunta me intriga e confesso não saber a resposta: adolescentes de hoje e de ontem, quais os mais bem informados e próximos da responsabilidade? Especialistas devem ter lá suas opiniões, mas não acredito de forma absoluta nelas. As comparações de pessoas diferentes em contextos diferentes acaba sendo, em meu entender, de uma relatividade quase impossível de ser avaliada.

No entanto, quando penso em minha geração – em minha própria adolescência – e vejo crianças e adolescentes de agora, começo a ter alguns indícios de avaliação. Adolescentes atuais, destes tempos confusos são, penso eu, mais hábeis em tecnologias, mais espertos em conseguir coisas, mas com menos senso moral, menos sonhos, menos expectativas e menor capacidade de luta. Não me refiro a exceções, nem destes nem daqueles tempos.

O nordestino tem uma filosofia popular que, em meu entender, deveria inspirar os nossos legisladores: “menino que faz menino é homem.” Ou seja: o garoto que já exercita a sua sexualidadade – um dos mais perturbadores e fundamentais mistérios da vida – deve já estar preparado para assumir responsabilidades. Um menino de 16 anos ao qual já foi dado o direito e a responsabilidade de votar – e, portanto, de participar da definição do futuro de sua cidade e de seu país – pode e deve assumir todas as outras responsabilidades de um adulto.

As religiões católica e judaica – confesso não saber se isso ocorre, também, em outras – têm um rito de transição sacramental: o crisma e o bar mitzvá, quando se dá a maioridade religiosa dos adolescentes. Em relação à sexualidade, a atenção sobre as meninas redobrava logo após a primeira menstruação, sinal de que já se tornara mulher em sua condição de procriar. E os garotos, de 13 a 14 anos – em famílias mais esclarecidas no contexto da época – eram levados, por um tio ou primo mais velho, ao meretrício para sua iniciação sexual. Os mais pobrezinhos viviam suas experiências nas ruas, entrre riscos e aventuras os mais diversos.

Mesmo indo à escola, crianças e adolescentes aprendiam a trabalhar. Praticamente, não havia classe média, mas, sim, uma divisão clara entre ricos e pobres. Crianças e adolescentes pobres estudavam e trabalhavam: engraxates, ajudantes no comércio, entregadores, de encomendas, auxiliares nas atividades de seus pais ou dos amigos e parentes destes. Os ricos ficavam apenas flanando, pois – descendentes de uma aristocracia rural de origem portuguesa – trabalhar, como para a nobreza também espanhola, era uma vergonha, atividade inferior. Vem daí a profética expressão popular: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. As ondas imigratórias – italianos, árabes, japoneses, judeus, espanhóis – mudaram essa concepção. E o poder econômico escapou das mãos dos chamados quatrocentões para a dos trabalhadores aqui chegados como imigrantes.

O adolescente de ontem era mais preparado do que o de hoje? Tinha mais maturidade para assumir responsabilidades? Não sei. Mas não aceito, não me conformo com e me indigno contra essa infantilização da adolescência, a proteção insincera e desonesta que se lhes dá, fortalecendo impunidades inaceitáveis. Estamos criando dois universos antagônicos: de um lado, adolescentes de famílias ricas muito protegidos e mimados; de outro, adolescentes de periferia e de famílias pobres, que amadurecem na luta, no trabalho e, também, no crime. A elite econômica e cultural acaba criando e formando homens e mulheres fracos. O universo da pobreza forma e cria mulheres e homens fortes. Para o bem e para o mal.

Cada vez mais nos deparamos com adolescentes, jovens e até crianças com graves problemas psicológicos, já entregues aos cuidados de analistas, de psicólogos, de psiquiatras. A educação formal é desastrosa, exatamente porque não é possível haver ensino e educação onde não houver civilidade. E as famílias se esqueceram da civilidade, das boas maneiras, do respeito entre as pessoas. Lembro-me de que, na adolescência de minha geração, havia uma frase comum na boca dos pais: “Para depressão juvenil, nada há melhor do que uma enxada para trabalhar.”

A ditadura de crianças e adolescentes é uma realidade. Não enxerga quem não quer. Até mesmo por conveniência. No entanto, está sendo causa da ruína de uma civilização. Confundiram violência e ditadura com autoridade. E autoridade é o que falta. Trata-se de um perigo. Pois, quando a autoridade se desfaz, o que surge, para substituí-la, é o autoritarismo. É quando a tragédia acontece. Bom dia.

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