O dia em que a Bruxa venceu a inquisição

DilmaDia 31 de outubro de 2010, Dia das Bruxas. E o espantoso aconteceu: a mulher Dilma Roussef – transformada em bruxa pelas oligarquia e plutocracia nacionais – depois de machucaduras, ferimentos, apedrejamentos, após ser quase levada à fogueira consegue vencer a Inquisição. As chamas, que já ardiam, extinguiram-se para dar lugar aos fogachos que, em todos os rincões do país, o povo mais humilde acendeu sofrida mas esperançosamente. Se se pode dizer de um grande, de um imenso vencedor, o nome dele é quase um sussurro: Lula. Este homem conseguiu mobilizar multidões, imantar corações, despertar confiança e criar convicções, vencendo um complexo formidável de poderosos meios de comunicação hostis, que circulam como que para si mesmos, ignorando a base da pirâmide social.

Chamada de “poste” pela oposição, Dilma Roussef foi eleita por indicação de Lula. Chamada de despreparada, Dilma revelou competência no seu conhecimento da problemática nacional, ainda que trôpega e balbuciante em seus discursos e em suas explicações. Revelou não ter a desenvoltura dos políticos profissionais, dos eternos frequentadores de palanques. E essa sua inexperiência em campanha eleitoral talvez tenha sido o seu grande trunfo em relação à massa de eleitores, que viu o conjunto da obra, que viu os benefícios, que enxergou a nova caminhada do Brasil – ensurdecendo-se a discursos superados dos ditos políticos experientes. Em política, quanto mais experiência se tem, mais carregado de vícios e de dissimulações se é.

A campanha foi sórdida. A caça às bruxas, cruel. A sordidez, intensa, apelando para artifícios lastimáveis de ordem moral, pessoal e religiosa. Como os velhos inquisidores da Idade Média, padres, bispos e pastores apontararam dedos acusadores, espumando de ódio e vertendo o fel de rancores, como se profetizassem o Apocalipse. Até um homem senil, como o Papa, foi envolvido na manobra inquisitória, na caça à grande Bruxa. José Serra se apresentou como o delfim da fé, o paladino da honestidade, a entidade humana superior aos seus semelhantes, a ponto de ele próprio, com olhar de deboche, tentar desqualificar a Bruxa Dilma pelo simples fato – que, agora, se revela extraordinário – de ela ser mulher. A derrota dos guardiões da velha ordem, dos cavaleiros dos privilégios e herdeiros de capitanias hereditárias foi definitiva. Morre um tempo, morrem lideranças antigas e, com a vitória da Bruxa Dilma e com o expurgo da Inquisição, até mesmo o PSDB começa a expurgar-se, aposentando generais cansados, limpando os salões e preparando-se para renovar-se, certamente sob a liderança ainda jovem, inteligente e carismática de Aécio Neves.

O que virá ninguém sabe, mesmo porque, como lembrou Magalhães Pinto, “política é como nuvem do céu, que muda a toda hora.” Mas o que se sabe, o que se confirma, o que aconteceu foi exatamente o que Belmiro Braga, num canto de genialidade, havia entoado, apropriado também ao povo: “O povo, quando quer, nem Deus desanima. É água morro abaixo, é fogo morro acima.” A história contará que, num Dia das Bruxas, uma Bruxa de nome Dilma venceu a Inquisição. Que, agora, os vencedores sejam humildes. E que tenham grandeza os vencidos. Bom dia.

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