O eixo de Suplicy

Não há como negar Eduardo Suplicy tenha sido um dos mais respeitáveis políticos brasileiros. Sua trajetória foi marcante, desde quando, em 1978, se elegeu deputado estadual pelo antigo MDB. Ingressaria no PT logo à sua fundação, engolfado pela grande onda petista liderada pelo então metalúrgico Lula. Suplicy teve atuação marcante como deputado estadual, vereador por São Paulo, presidente da Câmara Municipal, deputado federal, senador da República. Por onde passou, deixou registrada a marca da integridade pessoal e política.

Algo, porém, começa a acontecer com Eduardo Suplicy, como que um descontrole racional ou emocional, ou ambos, que é preocupante. Há que se lembrar de quando, em 1986, candidatou-se ao governo do Estado de São Paulo e, no auge da campanha, desapareceu de cena. Suplicy tinha sumido, sem que nem amigos próximos soubessem de seu paradeiro. Tratava-se de uma atitude inusitada, estranha, causadora de perplexidades. E, algum tempo depois, Suplicy reapareceu explicando-se: “Eu perdi o eixo, estava à procura dele.” Algum tempo depois, soube-se que o sumiço de Suplicy acontecera por forte dor de decepção conjugal.

Nos últimos anos e já como senador, Eduardo Suplicy continuou revelando sua firmeza de caráter, retidão de princípios que não foram arranhados nem mesmo quando do episódio das passagens aéreas do Congresso, que ele usara para levar a namorada, a jornalista Mônica Dallari, a passeio na Europa. Tratava-se de um escorregão menor, diante da enxurrada de lama que inundou o Congresso Nacional. Mesmo com o respeito de seus pares e da população, Eduardo Suplicy tem revelado, no entanto, nuances de personalidade que se vão tornando cada vez mais preocupantes. São atitudes fora do eixo, sim.

Ora, não se trata de sua obsessão pela Renda Mínima, por excessos que comete em sua defesa a ponto de se tornar inoportuno. Nem se trata, também, de suas dificuldades para se comunicar, as trapalhadas que faz a partir de sua fala titubeante e raciocínios confusos. Trata-se, agora, de atitudes, de comportamento, de atos que, se não o colocam como alguém que faltou ao decoro parlamentar, o empurra ao nível do ridículo, aproximando-o de se tornar personagem alvo de zombarias e de gozações.

Tem sido vexatório ver e ouvir Eduardo Suplicy, no Senado, interrompendo discursos ou dando apartes cantando rocks antigos. Foi patético ver Suplicy completamente transtornado, à beira de um colapso nervoso, quando apresentou o cartão vermelho a José Sarney. Suplicy tornou-se ator de uma cena patética, de comédia de pastelão. E, agora, o episódio lamentável, triste, ridículo, infeliz de o Senador Eduardo Suplicy – um dos poucos políticos ainda respeitáveis deste País – aceitar a brincadeira de mau gosto do pessoal de “Pânico na TV”, usando uma cueca vermelha por cima da roupa, desfilando pelo corredor do Congresso.

Suplicy tenta explicar-se, dizendo tratar-se de uma brincadeira. Melhor diria se assumisse ter sido uma molecagem que não condiz com a seriedade que se espera de um homem público de sua estatura moral. Eduardo Suplicy, descendo a ladeira do bom senso, parece precisar do auxílio de amigos ou de especialistas. Pois, mais uma vez, ele precisaria admitir que perdeu o eixo. Bom dia.

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