Obama

Juracy Magalhães foi um dos políticos mais influentes do Brasil. Tendo feito carreira na Bahia, tornou-se, lá, um dos coronéis nordestino, até mesmo por sua formação militar. Seu poder era assustador. Conservador, anti-comunista irracional, partícipe importante do golpe militar de 1964, Juracy Magalhães foi indicado Embaixador brasileiro em Washington, já nos primeiros tempos da ditadura.

É sua a frase que causou intensa polêmica no Brasil, provocando repúdio. Disse ele, em relação às nossas relações com aquele país: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.” Tratava-se, pois, de uma forma de subserviência ao império estadunidense que estendia seus tentáculos por todo o mundo. A frase – por infeliz e equivocada – mereceu condenação geral, com exceção dos adeptos do império dos gringos. No entanto, a frase contém, ainda hoje, um elemento importante e impossível de ser ignorado: o que acontece nos Estados Unidos repercute no mundo.

A eleição presidencial dos Estados Unidos – no embate entre Obama e Romney – desperta a atenção e causa tensões mundiais. São ideologias conflitantes em jogo, visões diferentes de mundo, ainda que ambos os candidatos tenham como objetivo primário – o que não poderia ser diferente – os interesses de seu país. As relações, no entanto, com o mundo, as diferenças essenciais da política externa são preocupantes. O espírito belicoso dos republicanos mais radicais – dos quais Romney tenta se afastar mas aos quais se aliou como pré-candidato – é de uma irracionalidade atordoante. É como se fossem adeptos de um faroeste universal, guerreiros para quem o resto do mundo são bandidos que precisam se submeter aos mocinhos.

De Barack Obama, esperou-se mais do que se devia. A novidade que ele era despertou paixões, imantou consciências, alimentou esperanças muitas das quais eram apenas utópicas. A realidade do governo é diferente da que se tem como candidato. Obama herdou uma situação econômica catastrófica, a recessão que alcançou o mundo e que provou a fragilidade de todo um sistema econômico que tinha pés de barro. Não cumpriu muito do que prometeu e do que quis. No entanto, seu equilíbrio, sua inteligência, a sensibilidade e moderação com que governa em tempos tão ásperos fazem, dele, ainda, o presidente dos Estados Unidos no qual mais pode o mundo confiar.

Romney, ao deixar cair a máscara de cordeiro, bem poderá vir a acolher a inquietação de Israel e seu desejo de bombardear o Irã com armas atômicas. Se isso acontecer, será o apocalipse, a tragédia universal. Obama – devagar e com serenidade – tem conseguido controlar situações internacionais perigosíssimas. Na vitória ou na derrota dele, nestas eleições dos Estados Unidos, pode estar sendo jogado o futuro próximo da humanidade. Com Romney, será possível até dar alguma razão aos que acreditam em que o mundo acabará em dezembro próximo. Bom dia.

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