Obama e o irresistível poder do Poder
Uma das sabedorias latinas à qual mais deveríamos estar atentos é a que diz: “corruptio optimi péssima”. Ou seja: a corrupção do ótimo é péssima. Quando o ótimo é deteriorado, ele se torna péssimo. E nada há de mais maléfico – para as pessoas e para a comunidade – quando líderes desfraldam bandeiras que empolgam, quando inspiram confiança e despertam esperanças para, depois, mostrarem-se ídolos de pés de barro, ou homens frágeis, fracos, heróis sem méritos.
Barack Obama – desgraçadamente para toda uma geração no mundo inteiro – acabou por enquadrar-se nesse catálogo de líderes carismáticos que – com bandeiras arrebatadoras e vontade aparentemente imbatível – acabaram por se nivelar a personalidades medíocres. Mais do que dramático e doloroso, chega a ser terrivelmente decepcionante ver o colapso de uma personalidade política, de um líder anunciador de esperanças, agora assemelhado a um Bush qualquer. A deterioração do ótimo é, pois, péssima. Porque desmorona esperanças, causa decepções profundas e, por conseguinte, a descrença em que seja possível mudar o que precisa ser mudado. E vencer as forças corruptoras que transformam o mundo numa propriedade de poucos que submetem, a seus apetites, todos os demais.
Fui um dos humanos empolgados com a eleição de Obama. E catalogo-me como humano por uma razão muito simples: para mim – como para multidões mundo afora – Barack Obama surgia como uma esperança para uma nova humanidade. Seu idealismo era contagiante e seu descompromisso com a velha ordem parecia uma fortaleza para realizar as grandes mudanças mundiais. No entanto, lembro-me de ter-me alarmado quando, logo ao início do mandato, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Por quê, se ele nada ainda fizera? A justificativa foi a de que Obama merecia o grande prêmio por suas intenções e ideias. Ora, não há qualquer ordem racional que homenageie alguém por suas intenções. Pois estas mudam. Foi quando temi e escrevi: Barack Obama, com o Prêmio Nobel, poderia ter sido levado a uma verdadeira arapuca. Da qual não conseguiria sair.
Hoje, Obama finge não ter-se esquecido de suas promessas, dos sonhos que despertou, dos ideais que renovou. E se justifica, criando sofismas enquanto ainda promove matanças, faz perseguições, restringe liberdades fundamentais, mantém o cruel cativeiro de Guantánamo, persegue adversários e quer impor, com ainda mais força, o Império dos EUA. Suas explicações são esfarrapadas. E revelam, apenas, que ele sucumbiu à força do Poder. Na verdade, Obama não soube enfrentar o irresistível poder do Poder. E, também para ele, passou a valer a “realpolitik”, essa que solapa todos os valores morais em benefício da ordem prática, coercitivas, imorais e maquiavélicas. Obama se nível a outro Prêmio Nobel da Paz, Henry Kissinger – que tanto mal trouxe à humanidade – com sua política voltada exclusivamente ao interesse nacional, sem qualquer valor moral em relação a outros países ou nações.
É perceptível o abatimento de Barack Obama quando ele se apresenta publicamente. Perdeu o brilho do olhar, mostrata-se cabisbaixo, abatido, talvez – por que não? – envergonhado diante de uma possível consciência interior que lhe diz à alma: “a corrupção do ótimo é péssima”. O mundo está sem líderes que indiquem uma outra via que não a do mercado ou das disputas internacionais já não se sabe mais se por questões religiosas ou apenas petrolíferas. Barack Obama não foi. E nem será. É uma pena, mas, novamente, é a vitória do mal contra o bem, a força ainda irresistível e imbatível do Poder Econômico. Apenas o Poder Ideológico poderá abalá-lo. Será que não estaria em Francisco, o Papa, essa nova ainda que pálida esperança? Bom dia.