Questões de sempre

Blá Blá BláFui um admirador de Sua Santidade, o Papa João Paulo II. A milenar sabedoria da Igreja Católica deslumbra. Aliás, sabedorias milenares fascinam-me, como a riqueza imensurável das tradições judaicas. E os tesouros do Islamismo? São religiões que têm respostas para tudo. A Palavra de Deus está nelas, conforme o credo de cada fiel. A Torá, o Alcorão, a Bíblia são tesouros que, em meu entender, mais do que religiosos, são de profunda sabedoria humana. Neles, encontram-se respostas e soluções as mais amplas. E, quando parece não haver, recorre-se à Palavra de Deus. Dessa forma, se Deus falou, não há mais o que discutir. De certa maneira, é muito semelhante à sabedoria dos árabes que, aliás, antecede à da Igreja. Quando não sabe explicar, quando quer agradecer, quando está feliz, se triste, árabe suspira e fala: “Maktub”, estava escrito. E, de uma forma misteriosa e poética, o que está escrito nas estrelas e a Palavra de Deus se misturam.

Deixei, há muito, de discutir ou questionar algumas situações. Fazê-lo parece inútil, já que se trata de questões de fé, de crença, entre pessoas que buscam, que procuram, que tem certa fome de absoluto. E, em nenhum outro lugar, penso eu, senão na Igreja Católica, pode-se encontrar a noção do infalível e do indissolúvel. Tudo do humano é falível, tudo o que existe se dissolve, até Marx já havia falado de que “tudo que é sólido se dissolve no ar”, reaproveitado pelo escritor Milan Kundera. Mas, na Igreja, o Papa é infalível em questões de fé e de moral. E o casamento é indissolúvel. Aconteça o que acontecer. Marido e mulher podem se odiar, homem e mulher podem desgraçar um ao outro – mas o que Deus uniu o homem não pode separar.São desafios e confusões que deixei de questionar. Afinal de contas, fé é um mergulho no que não se entende. Ou não? Como se dizia antes, “eles são brancos, que se entendam.”

Lembro-me de João Paulo II quando se vai ampliando, pelo mundo, a legalização do casamento entre homossexuais. De minha parte, acho que uma união civil, legalizada, com direitos civis garantidos, já seria suficiente, pois casamento carrega uma carga fortíssima de religiosidade mesmo quando os cônjuges nem pensam nisso. Uma análise de João Paulo II, lembro-me, revelou profunda sabedoria, quando se referiu a homossexuais, travestis, pedófilos, lésbicas. Para ele, eram pessoas com “desvios afetivos”. Achei formidável o jogo de palavras para abordar temas, situações que continuam despertando todos os interesses humanos, desde a simples bisbilhotice, passando pela fofocagem, até a busca das funduras da alma humana.

Acontece, porém, que “desvios afetivos” podem ser justificativas para para explicar muitas e muitas outras situações, circunstâncias e atitudes envolvendo o ser humano. Matou? Desvio afetivo. Roubou? Desvio afetivo. Esse caso escabroso do goleiro Bruno, por exemplo, não poderia, também, como jogo de palavras, ser considerado um “desvio afetivo”? Há expressões que servem para quase tudo, como aquelas roupas “tamanho único”. Bom dia.

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