Síndrome dos sanitários públicos

Banheiro públicoPiracicaba, no passado, viveu o grande paradoxo de ser cidade exemplar e pioneira em limpeza e alguns serviços  e de não encontrar soluções para sanitários públicos. Na verdade, estes eram problemas nacionais. Tenho – no meu baú de lembranças – alguns caderninhos de capa preta onde registrei minhas escrevinhações de juventude. Estudando Direito em Campinas, viajávamos – alguns colegas – todas as manhãs, retornando à hora do almoço. Quando o ônibus parava em postos de gasolina, deparava-se com o horror: a sujeira quase absoluta dos sanitários públicos. Tenho isso registrado naquelas páginas de escrevinhador juvenil.

Os prefeitos Aquilino Pacheco e Paulo de Moraes Barros eram saudados por terem transformado Piracicaba em “cidade modelar, para o Brasil, em administração pública”. Mas não resolveram o problema dos sanitários públicos. Assim, o centro da cidade – especialmente nos fins de semana – exalava maus odores insuportáveis. O recurso dos mais bem relacionados – quando “quadrar jardim” era a coqueluche do povo – era socorrer-se dos bares, em especial a “bombonière” do  Passarela, onde está, na Praça José Bonifácio, atualmente, o Banco Itaú. Os mais simples e humildes não tinham outros meios: “aliviavam-se” atrás da Igreja Matriz, depois Catedral, e também nos fundos do Teatro Santo Estêvão.

Foi Luiz Dias Gonzaga, um dos mais influentes dos coronéis políticos de Piracicaba, quem construiu o primeiro sanitário público da cidade: atrás da Catedral, no abrigo de ônibus. Luiz Gonzaga ficou tão orgulhoso de sua obra que ia, todas as noites, admirá-la. E o seu orgulho aumentou quando ele próprio levou iluminação elétrica ao local. Feliz, envaidecido, ele via o sanitário todo aceso e exclamava: “Não parece a Praça da Sé?”

Deve,  pois, ser genética na administração piracicabana essa “síndrome do sanitário público”. Construção,  consertos,  reformas são proclamadas aos quatro ventos, como grande conquista, homenagem, não se sabe mais, se à alma do povo ou à bexiga e intestinos das gentes. Prefeitos exultam, divulgam, proclamam, fazem festas e placas inaugurais! Os sanitários  são elevados ao nível de tronos. E isso perdura até hoje, especialmente a partir da obsessão do ex-prefeito Barjas Negri em poluir visualmente a cidade com placas das obras da Prefeitura. Até quando eram concluídas, as obras mereciam placas e divulgação. Algumas permaneciam meses e meses a fio, comunicando que se tratava de “mais uma obra” concluída.

Não com tanto apetite, mas, sendo fiel à escola, o atual prefeito parece pretender honrar essa “síndrome dos sanitários” públicos, que acompanha a vida piracicabana. Basta atravessar a Avenida independência e lá está – impávido, colosso –  o grande painel de mais uma notável obra administrativa: “Reforma dos sanitários do Cemitério”… Está, pois, confirmado o histórico fascínio de nossos prefeitos pelos mictórios, seja onde estiverem. Só falta, agora, alguém falar: “Não parece Nova York?”. Síndrome é difícil de ser tratada. Bom dia.

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