Tiririca, educação e cultura.

É óbvio que haverá quem até mesmo veja preconceitos contra a escolha do palhaço e deputado federal Tiririca como membro da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal. Afinal de contas, o Brasil está passando por uma fase de anestesia crítica e moral, de forma que temos suportado tudo e acolhido até mesmo com naturalidade o que despertaria, em povos mais sérios, a indignação geral. Nas últimas décadas, convivemos com um “politicamente correto” de tal forma estúpido que tudo pode ser possível, sem análises críticas, sem questionamentos, sem reflexões.

Ora, não é pelo fato – ainda que significativo em si mesmo – de Tiririca ter sido o candidato a deputado federal mais votado do País que viria, ele, a se tornar uma pessoa qualificada para o cargo. Foi uma palhaçada de parte do eleitorado e, também, uma forma infeliz de protesto. Tiririca poderá vir a ser um excelente deputado, em nível de despachante federal – dedicado, atencioso, interessado – mas tem limites culturais que o impedem de assumir responsabilidades que fogem de sua competência. Se, até recentemente, tinha que provar ser, pelo menos, alfabetizado, como é possível que, agora, a mesa da Câmara Federal aceite a sua indicação para um cargo de altíssima responsabilidade cultural e educacional?

A alegação de que Tiririca pertence à classe artística e está filiado ao sindicato dos artistas não resiste a uma análise superficial. Aliás, com essa indicação parece, enfim, ter chegado a hora de voltarmos a respeitar a arte, a cultura e a educação, questionando a banalização que lhes tem sido feitas. Um palhaço – e, também, atores, atrizes de televisão, de cinema e outros protagonistas do mundo do entretenimento – não são artistas, mas intérpretes. Artista é o que cria, até mesmo na música. Tanto assim é que um pianista virtuosíssimo, por exemplo, é um intérprete diante da obra do compositor, este, sim, um artista.

Se Tiririca, por se apresentar como artista, tem condições de ser membro de uma Comissão especial de cultura e educação de quem se tem tanto a esperar, é porque, realmente, está assinada e decretada a falência do parlamento brasileiro. A reforma política urge, mas não pode ser feita por políticos, pois seria como entregar o galinheiro aos cuidados da raposa.

Mas, na verdade, que importância tem tudo isso, não? Que importância tem, se até mesmo a corrupção está sendo aceita como algo natural e próprio da vida pública? Estamos incorrendo num erro que poderá ser fatal: o crescimento do Brasil tem sido apenas econômico. E isso não basta construirmos uma verdadeira nação. Bom dia.

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